"A necessidade
de interpretar e explicar as notícias é manifesta. A vida
se tornou tão complicada e variada, nas múltiplas atividades,
que mesmo os especialistas se desorientam em seus próprios campos
de conhecimento. O homem mortal comum, perdido no labirinto da economia,
da ciência e das invenções, pede que alguém
lhe dê uma mão e o acompanhe em seus passos, através
de tanta complexidade. Por isso, o jornalismo moderno se encarrega não
só de noticiar os fatos e as teorias, mas proporciona ainda ao
leitor uma explicação sobre eles, interpretando e mostrando
seus antecedentes e suas perspectivas. Tudo isso com o propósito
de ajudar o homem a compreender melhor o significado do que lê,
vê e ouve" (1).
ESPECTADOR, TELEVISÃO E CONTROLE REMOTO
É inegável
que a modernidade trouxe inúmeras transformações
à vida das pessoas. Desde os direitos humanos, à invenção
da TV, do fantástico e prático controle remoto, às
tecnologias de informática (Internet) e de comunicação
(transmissão analógica e, a mais recente, a digital).
Mas trouxe, também, poderosas bombas, granadas, mísseis
- armas químicas com enorme poder de destruição
em massa. Lógico que nem todos os avanços foram bons e
trouxeram felicidade, prosperidade, para a humanidade. Sem dúvida,
não. Porém, junto com todos esses acontecimentos veio
a popularização dos meios de comunicação
e a "democratização" da informação
- um significativo avanço na Comunicação Social
e Audiovisual, mas que não pára por aqui.
Há décadas o jornalismo visual (impresso), áudio
(rádio) e audiovisual (televisivo) vêm trilhando caminhos
repletos de erros e acertos; vitórias e derrotas; e muitas, muitas
dificuldades. Isto torna-se visível quando analisamos a história
dos meios de comunicação de massa (M.C.M), o papel social
que o jornalismo vêm "desempenhando" e documentando
sobre a humanidade ao longo das décadas.
Seja por meio dos tipos móveis, da prensa para impressão
- invenções de Johannes zum Gutemberg, em 1450-; das antigas
laudas de papel escritas à mão; das arcaicas máquinas
de escrever que costumeiramente prendiam os dedos de quem as usava para
digitar; dos jurássicos computadores a válvulas como o
ENIAC que tinha 30 metros de largura por três de altura ou pela
rede mundial de computadores, a Internet, todos esses recursos tecnológicos
exerceram algum tipo de mudança na vida dos emissores e receptores
das mensagens.
É claro que o jornalismo sempre foi muito dependente do avanço
tecnológico para conseguir inovar, superar seus próprios
limites e preservar seu espaço. A televisão é um
bom exemplo disso. Ela só tornou-se possível no século
XIX, depois que em 1923, o cientista norte-americano e russo de origem,
Vladimir K. Zworykin conhecido como "Pai da Televisão"
fez duas das mais significativas contribuições de toda
a história da Comunicação Audiovisual: uma foi
a invenção do primeiro tubo de câmara adequado a
teledifusão (iconoscópio) e a outra foi a do tubo de imagem
usado em receptores de televisão (cinescópio). Graças
a estas criações, há mais de 50 anos a humanidade
vê na TV uma fonte de informação e entretenimento
acessível.
Atualmente, diante de tanta inovação tecnológica,
não é mais coisa de outro mundo que um correspondente
internacional grave e edite uma matéria em Nova York e mande-a
em segundos via e-mail para a emissora de TV no Brasil por meio de um
laptop (computador portátil). Assim como, também, não
restam dúvidas que a Internet tem o poder de encurtar distâncias
e romper fronteiras territoriais em milésimos de segundos. Incontestavelmente,
a televisão conquistou mentes e corações do mundo
inteiro, mas nem sempre foi assim.
Nos anos 50, muito se falava dos males que ela causaria à saúde
(2). Diziam que por causa dela em Connecticut um cachorro teria ficado
vesgo e que suas radiações provocariam câncer e
esterilidade! Boatos sobre cegueira e miopia, também não
faltaram. Enquanto isso, o mercado ávido e oportunista lançava
óculos protetores para ver TV. Na época doenças
como torcicolo (telecrane) e acorcundamento (telesquat) (3) também
eram efeitos nocivos do "diabólico" aparelho reprodutor
de sons e imagens.
Ainda não satisfeitos em tentar detoná-la, em 1956, alguns
sanitaristas ingleses acusaram-na de causar envelhecimento precoce.
Você já imaginou? Nos dias atuais, em pleno século
XXI, você com uma crosta saliente de creme contra envelhecimento
no rosto assistindo ao seu programa de TV predileto? Algo semelhante
a um emplastro na cor azul turquesa e sobre ele os incríveis
óculos telenews para você assistir sossegado o "maligno"
aparelho transmissor de ondas eletromagnéticas?
Acredito que não, né? Mas se conseguiu das duas uma: ou
você, caro leitor, pode virar um brilhante roteirista e cineasta
de filme de ficção científica em Hollywood ou deve
procurar imediatamente um psiquiatra para tratar de sua insanidade mental!
Sim, pois não há nada mais hilário do que a cena
mencionada. Mas, por outro lado, se você ficou triste, cabisbaixo
por que não ter conseguido nem sequer se contextualizar na encenação
infame, não perca as esperanças. Ainda há tempo!
Então me responda rapidamente: você é do tipo "espectador
telemaníaco"? Daquele que não sai da frente da tevê
nem por um decreto divino? Então, pronto! A partir de agora você
pode ser o nosso ilustre personagem. Isto porque que segundo o doutor
Meyer Naide diagnosticou, em 1957, os telemaníacos podem sofrer
television legs - uma espécie de problema nas articulações
das pernas. Caso você não seja do tipo egoísta e
adore compartilhar os melhores momentos da novela ou do noticiário
bem juntinho com a sua família, fique atento: de acordo com G.
M. Wilburn, catedrático da Universidade de Glasgow, a forte radioatividade
do vídeo é capaz de afetar os descendentes de um ser humano
por dois mil anos. Uma saga e tanto se você tiver uma grande família...
Com o passar dos anos barbaridades toscas, como esta última contra
a televisão foram se superando, tomando dimensões ainda
mais absurdas e contundentes. Como o cômico texto publicado na
imprensa inglesa, em 1959 é exemplo disto: "A TV provoca
declínio da inteligência nacional, maior freqüência
de pesadelos, aumento de suicídios, de varizes e de cáries
dentárias e (...) redução de peixes e batatas fritas!"
(4) (sic).
Anos depois, finalmente pesquisas científicas comprovaram que
tudo não passava de uma série de bobagens infundadas.
Sérgio Benchimol, membro das Sociedades Brasileira e Francesa
de Oftalmologia, da Academia Americana de Oftalmologia e especialista
em cirurgias de catarata e miopia, explica que nos anos 50 a televisão
era um elemento novo que trouxe mudanças e que favoreceu precipitadamente
o surgimento de uma onda conservadora contrária ao estilo de
vida que as pessoas estavam acostumadas a ter, inclusive dentro da medicina.
Diante do atual cenário econômico capitalista, a espetacularização
da notícia é um reflexo da modernidade sim, segundo Max
Weber. Da mesma forma que de acordo com as teorias de Marshall McLuhan
é possível verificar que as mudanças nas estruturas
de programação, enfoque e conteúdo das informações
dos meios de comunicação acarretam mutações
profundas no modo de viver das pessoas.
McLuhan alerta bem sobre este perigo, que numa visão ainda mais
particular, poderíamos arriscar em dizer que a comunicação
pode ser considerada na modernidade como: "um conjunto de experiências
que promete aventura, poder, alegria, crescimento e transformação
das coisas ao redor - mas, ao mesmo tempo ameaça destruir tudo
o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos"(5).
Não estamos afirmando que a comunicação vai nos
destruir. Não é isso. Aliás, muito pelo contrário.
Mas, ao mesmo tempo, que ela tem o poder de transformar o modo de pensar,
agir e sentir das pessoas, ela pode se tornar perigosa se for baseada
no sensacionalismo. Ela poderá servir como um eficaz instrumento
de manipulação e substituição de cultura
útil por inútil.
Vale lembrar a comunicação saudável é aquela
que agrega alguma informação, algum conhecimento útil
à sociedade. Nas aulas de Ética em Jornalismo, em especial,
é possível constatar a importância do Código
de Ética nesta área. É ele que rege a conduta profissional
do jornalista e dos veículos de comunicação. Lamentavelmente,
a cada dia que passa tenho a nítida sensação que
esta cadeira parece ter sido abolida da prática profissional
de alguns jornalistas e meios de comunicação. Não
é raro se deparar com notícias tendenciosas, pejorativas,
que visam beneficiar uma das partes ou mesmo mascarar a verdade dos
fatos.
É fundamental que se favoreça à sociedade, assim
como o Globo Repórter faz, além do cumprimento da ética
no exercício do jornalismo, o alcance do conhecimento de cunho
intelectual aos espectadores. A comunicação eficaz requer
um conteúdo rico: "As representações devem
estar adequadas ao contexto do indivíduo e da comunidade a que
pertencem. Assim podem conseguir divulgar uma mensagem atrativa e útil"(6),
define Bender.
O enfrentamento de dificuldades em sobreviver na "Selva" mercadológica
da Indústria Cultural e do capitalismo, na busca por audiência,
não justifica absolutamente a prática do sensacionalismo
em nenhum dos aspectos. Não é porque o jornalismo passou
a pautar conteúdos baseados no gosto do público-alvo e
com objetivo também comercial para se manter, que nós
telespectadores tenhamos que engolir bizarrices. A notícia é
produto sim, mas deve agregar cultura, educação, e não
apenas "pisca-piscas luminosos e intermitentes" de espetacularização
visando os preciosos pontos no Ibope.
Seria este o tradicional jornalismo romântico? Não. Para
o editor Alcino Leite Neto, do caderno Mais da Folha de São Paulo,
o jornalismo tradicional e romântico teria chegado ao fim. É
o que Neto chama de "publijornalismo". Uma mistura de mecanismos
de persuasão publicitários e informação
embutidos em um único produto, a notícia - bem diferente
na sua essência que o jornalismo romântico.
O ponto de virada foi tanto e tão forte que na década
de 80, surgiram novas formas de produção jornalística.
Conseqüências diretas dos avanços da Era tecnológica.
Com ela nasceram novas técnicas de elaboração das
informações jornalísticas que passaram de um estado
de relativa imobilidade a uma rápida aceleração.
A vida das sociedades no final do século XX e início do
séc. XXI passou a ser marcada por um ritmo veloz nas relações
sociais. As máquinas começam a funcionar com rapidez,
as prensas nos jornais, a girar freneticamente a produção,
o consumo e a informação também.
O compasso da vida do brasileiro e do mundo tornou-se mais ligeiro não
porque tenhamos nos tornado de uma hora para outra mais rápidos,
mas porque as tecnologias passaram a fornecer muito mais possibilidades
de ação, de trabalho e de lazer - embora nem sempre sobre
tempo para desfruta-lo. Com esta multiplicação, o mercado
de trabalho passou a exigir mais do homem e querer dele produtividade
como a das máquinas.
Diante da evolução e do aprimoramento das tecnologias,
a luta contra o tempo passou a ser inevitável. A exemplo do que
aconteceu com a televisão, o computador foi elevado a um produto
comercial com custos cada vez mais acessíveis e tornando-se cada
vez mais popular.
Apesar dele ser um dos últimos rebentos da família dos
produtos eletrônicos, o computador transformou-se um bem característico
das sociedades industriais evoluídas (ou pós-industriais),
a ponto de hoje ser possível medir o grau de desenvolvimento
de uma sociedade em termos econômicos baseando-se em levantamentos
do número de computadores e de televisores instalados nas residências
ou estabelecimentos comerciais.
Outro avanço tecnológico que merece destaque é
o da tecnologia digital. Ao assistirmos um documentário numa
tecnologia como esta, por exemplo, estaremos vivenciando uma realidade
aparente, mas que não é ilusória, segundo Marcondes
Filho. Num futuro, não muito distante, o documentarista vai poder
usar dos recursos de Internet para possibilitar ao telespectador-internauta
uma navegação interativa num espaço onde ele poderá
navegar e escolher o caminho que quer seguir através dos links
ou hipertexto - linguagem de Internet. Algo, bem mais arrojado e sofisticado,
do que se tem acesso atualmente pelo DVD.
Diferentemente do que acontece no documentário tradicional da
tevê analógica, o usuário da TV digital poderá
fazer pesquisas na Internet sobre temas que realmente o interessam ou
mesmo bater-papo on-line com as personagens do documentário já
que está conectado a Rede Mundial de Computadores.
Apesar de tantas mudanças radicais, multiplicidades e possibilidades
de interação, acredita-se que a produção
de documentários vai continuar trilhando os caminhos que Robert
Flaherty e Dziga Vertov abriram: o de gravar "fragmentos do real";
assim como o de John Grierson "tratamento criativo da realidade".
Assim como já é hoje, daqui 30 anos ainda será
possível, através das máquinas e dos sistemas eletrônicos,
vivenciar uma série de experiências que Marcondes Filho
chama de realidade virtual (7).
Para ele, o "universo tecnocêntrico"(8) cria situações
de vivências através dos aparelhos eletrônicos. O
conceito de real sofre uma decomposição e cria-se a partir
disso uma realidade aparente (9), mas que não é ilusória.
Com o passar do tempo e o avanço das novas tecnologias, as máquinas
vão cada vez mais se tornando familiares ao homem e o homem,
por sua vez, vai delegando cada vez mais atribuições a
elas, deixando, ele mesmo, de ter experiência, vivência
e conhecimento das coisas.
Contundente Marcondes Filho diz que o aumento das máquinas significou
também um empobrecimento do homem. "Há certos ramos
profissionais em que os especialistas têm tantas máquinas
à disposição que cada vez menos pesquisam, cada
vez menos conhecem em profundidade os fatos de sua profissão,
cada vez mais ignorantes são"(10) .
Ou seja, para ele, o crescimento da inteligência da máquina
passou a equivaler à redução da inteligência
do homem. É o resultado oposto, segundo ele, ao que se imaginava
antes, em que a máquina promoveria o bem-estar e auxiliaria no
seu aprimoramento. Divergências à parte, seria injusto
dizer que o conhecimento dos profissionais jornalistas ficou empobrecido
com a vinda da tecnologia de ponta e, tão pouco, afirmar que
atualmente eles são menos esclarecidos com o advento das tecnologias
computadorizadas que há tempos atrás. Isto porque os recursos
tecnológicos auxiliaram em muito a mão-de-obra jornalística,
que hoje coleta dados, reflete sobre o assunto da notícia e a
digita no computador. Portanto, não houve nenhuma redução
ou mutilação na quantidade de inteligência do ser
humano jornalista, e nem tão pouco, na possibilidade de entendimento
do público-alvo das notícias, pois elas deixaram de ser
longas e passaram a ser cada vez mais fragmentadas, objetivas, breves
e enxutas - a fim de acompanhar o ritmo de vida das pessoas que trabalham,
estudam, cuidam dos filhos, etc.
Em se tratando da potencialidade da comunicação moderna,
Marcondes a encara como uma grande porta de entrada para um território
que toma o lugar do chamado mundo real. Ele acredita que os investimentos
feitos nas realidades virtuais, como é o caso de filmes de ficção,
reconstituições jornalísticas e documentários
de tevê são capazes de provocar efeitos sobre estes indivíduos.
"Com certos óculos, fones de ouvido, roupas especiais eu
me coloco diante de um programa desta natureza e posso, de forma emocionante
e fantástica, conhecer outros mundos, ter experiências
agradáveis, entrar por caminhos misteriosos, estranhos que provocam
sensações de medo, angústia, prazer, euforia, choque,
em suma, um misto de emoções jamais conseguidas outrora
por qualquer forma de representação (11)".
Se por outro lado, o homem considera a máquina uma extensão
de si próprio, conforme o conceito de prótese em Baudrillard
(12 ), por outro, a prótese última, o computador, não.
Ela propõe a ele o fim do mundo real, e o início de um
novo, apenas virtual.
É por essas e outras que muitos telespectadores praticam o control
tour (turismo via controle remoto pelos canais de televisão)
em busca de programação interessante, inteligente e útil.
Este é um fenômeno social. Está ligado diretamente
à necessidade do consumidor-espectador. A programação
de TV está lá. Inserida na sociedade democrática,
ela entra no lar de milhares de cidadãos e erradia bens culturais,
uma vez que é acessível a todos, indistintamente. Circula
informação livremente, ramificada das mais diferentes
formas nos mais diversos canais do quadrado imagético da televisão.
O indivíduo, portador de livre arbítrio, por sua vez,
acessa o que ele quiser e na hora que puder.
Sim, mas aí você, caro leitor me pergunta: aonde entra
a televisão digital nesta história? E eu te respondo:
na melhoria da qualidade da imagem e do som e na ampliação
dos caminhos a serem trilhados pelo usuário, mas isso é
coisa para um futuro não muito distante.
O que é
televisão digital? Televisão digital (HDTV - Higth
Definition Television)
Sistema com alta definição de imagem. Sistema aprovado
nos Estados Unidos, em 1997. Promete transformar a maneira do espectador
assistir à TV. Visa ser a maior revolução desde
a criação da transmissão em cores acontecida na
década de 50. É a promessa do fim da passividade do telespectador
e do uso frenético do controle remoto. Com ela será possível
ter grande diversidade de canais disponíveis.
Origem:
As pesquisas para o desenvolvimento e a implantação da
TV digital, não são de hoje. Há mais de 20 anos,
técnicos de empresas japonesas, européias e americanas
de grande porte estão envolvidos neste projeto revolucionário.
Quanto à programação, com este sistema poderá
ser possível personalizar a TV com mais conteúdos e assuntos
específicos do interesse de cada telespectador. Esse método
pretende acarretar diversas conseqüências, como o possível
isolamento físico; fim do Ibope; mudanças nas estratégias
de se fazer marketing e publicidade na TV.
Atualmente o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking dos países
com maior número de tevês analógicas no mundo. São
37 milhões de aparelhos. Superado apenas pela China, EUA, Rússia
e Japão. Já a Internet, outro fenômeno social, possui
mais de 600 milhões de utilizadores espalhados por mais de 150
países. Só no Brasil, conforme estatística realizada
em setembro de 2000, pelo Ibope são mais de 14 milhões
de usuários.
Diferenças
entre TV analógica e digital
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