Super-8
MONTAGEM E SONORIZAÇÃO


por Filipe Salles

 


Em termos cinematográficos, entendemos a montagem e sonorização como processos de FINALIZAÇÃO de um filme, ou seja, colocá-lo em condições de ser exibido publicamente

MONTAGEM:

Tanto filmes Super-8 como Single-8 podem ser igualmente montados nas mesmas coladeiras, uma vez que seu tamanho é o mesmo. O processo é totalmente manual e requer uma certa habilidade. É importante frisar alguns aspectos do Super-8 quanto à sua finalização:

O Super-8 tradicional é um filme reversível, ou seja, não apresenta resultado final negativo, e sim positivo, pronto para projeção. Isso significa que não é um filme próprio para fazer cópias, e assim, qualquer erro, como um corte errado, um risco no filme, ou mesmo amassá-lo inadvertidamente, significa perder o material original.
Por esse motivo, a montagem do Super-8 deve ser cuidadosamente planejada com antecedência, junto ao roteiro, pois não funciona como o 16 ou 35mm, que, tendo uma cópia de trabalho, é possível montá-lo e desmontá-lo à vontade pois o negativo estará preservado. O Super-8 reversível não tem negativo, e, no caso do Super-8 negativo, não há cópia. O Super-8 não foi feito para finalização profissional!

PORTANTO, as opções são, atualmente, as seguintes:

1) Filmar em Super-8 reversível e montar na coladeira.
Primeiramente, para este processo é necessário um editor de Super-8. Como não há moviolas (embora já tenham sido fabricadas por um breve período), os editores de Super-8 são a melhor opção. Com eles, trabalhando em conjunto com uma coladeira, é possível montar um filme sem grandes problemas.

Este é um editor de Super-8 mudo. Possui um prisma interno que simula o obturador do projetor, fazendo com que se veja o filme passando normalmente, e não a imagem corrida. É similar aos sistemas das moviolas profissionais. A única diferença é que a maioria dos editores não tem motor de tração, ou seja, a velocidade do filme está condicionada à manivela girada pelo operador.

Esta é a versão sonora do editor, e deve ser imprescindível à montagem caso se queira montar e finalizar em película S-8 um filme sonoro. Pois sem um leitor magnético, não é possível saber em que parte do som estamos cortando, já que o som correspondende à uma imagem está 18 fotogramas à frente desta. Seria o mesmo que cortar no escuro.
A não ser que a intenção seja sonorizar posteriormente, ou mesmo telecinar o material e sonorizá-lo em vídeo, é preciso um editor sonoro.

É necessário achar uma coladeira específica de Super-8. As melhores são as FUJICA, para Single-8 (mas que servem no Super-8), e a grande dificuldade é encontrar o durex próprio para esta coladeira. Eles ainda são vendidos nos EUA, é preciso importá-los. São resistentes, baratos e já vêm com a perfuração certa para a bitola (se vc tentar usar outro durex vai ter os problemas de colagem triplicados). O processo é artesanal: corta-se fisicamente o filme e emenda-se uma ponta na outra com o durex. Com isso, obtém-se um filme passível de ser projetado, o que reforça a necessidade de se usar um durex correto, pois um alternativo poderá arrebentar na projeção.

Coladeira para cola com base de acetona.
Esta coladeira tinha a desvantagem de sobrepor as duas pontas emendadas, dificultando, por vezes, a passagem pelo projetor. Mas a emenda ficava extremamente resistente
Esta é uma versão sofisticada da anterior. Utilizava cola à quente, o que aumentava ainda mais a durabilidade da emenda. Algumas ainda faziam um corte diagonal para que as emendas não se sobrepusessem.
Esta coladeira FUJICA, trabalhava com durex fabricado pela Fuji. Embora destinada ao Single-8, pode ser usada em Super-8 da mesma maneira, pois as medidas são idênticas. É a mais prática e simples coladeira do mercado. A única dificuldade é achar o durex específico dela.

2) Filmar em Super-8 Negativo. Neste caso, não há cópia positiva e nem moviolas para montagem (já existiram, mas estão fora do mercado há bastante tempo, e não há laboratórios aptos a copiarem Super-8), e o filme deverá, obrigatoriamente, ser telecinado.
Telecinagem é o processo que reverte a película de cinema em sinal de vídeo, podendo gravar as imagens em diversos suportes de vídeo, de analógicos (VHS, S-VHS, 8mm, Hi-8, Betacam) ou digitais (DV, Mini DV, DVD, HDTV), dependendo da verba disponível para isso.

Processos de Telecinagem:
Transferência Aérea: É baseada num processo simples, a caixa de espelho, que consiste num tubo retangular com uma lente e um espelho interno. Coloca-se numa extremidade da caixa um projetor e na outra uma câmera. A lente e o espelho direcionam a imagem projetada para a câmera, que 'filma' a imagem do projetor, ou seja, o filme. Apesar de se dizer, muitas vezes, que é um processo digital pela câmera captadora ser digital, este é sempre um processo analógico, que varia de qualidade em vários graus.
Digital : Este é um processo direto, sem 'projeção', idêntico aos processos de telecinagem profissionais de 16 e 35mm nos telecines tipo Ursa. É o mais caro e também o melhor processo de telecinagem

As vantagens desse processo são várias:

a) A possibilidade de escolher diversas sensibilidades (ISO 50, 100, 125, 200, 250, 320, 500 e até 800), pois os filmes são os mesmos fabricados em 16 e 35mm, só que cortados no formato S-8
b) maior latitude do filme, possibilitando filmar em condições precárias de luz, ou mesmo para simplesmente poder exigir mais do contraste do filme, uma vez que o filme negativo tem muito maior latitude que o reversível
c) poder corrigir as cores e acrescentar efeitos diversos no telecine
d) ser muito mais barato que 16mm e, quando passado para vídeo digital, ter qualidade similar a este em condições controladas de luz.

As desvantagens são:

Impossibilidade de projeção em cinema, exigindo ou projeção em vídeo (cuja perda de qualidade começa a se tornar significativa), ou kinescopia, processo inverso da telecinagem, em que se pega material em vídeo e o passa para película cinematográfica. Apesar se se poder passar para 16 ou 35mm, de muito maior qualidade, o original em S-8 deve estar impecavelmente bem filmado, ou a imagem correrá o risco de ficar borrada e indefinida.


SONORIZAÇÃO:

A sonorização em Super-8 é outro problema relativamente sério. Há pouco mais de 5 anos atrás ainda eram fabricados cartuchos sonoros de Super-8, o que significava que era possível filmar em S-8 com SOM DIRETO, ou seja, som captado na hora e gravado na película junto com a imagem. Isso porque as câmeras sonoras possuíam uma cabeça similar à de um gravador cassete, que gravava o som na banda magnética das películas sonoras juntamente com o registro das imagens pelo filme.
Assim, o filme estava praticamente pronto ao término das filmagens, bastanto apenas ser feita a montagem

Era um processo mais simples, mas tinha algumas observações importantes: O som no Super-8 é gravado (assim como também em 16 e 35mm) com alguns fotogramas de distância da imagem correspondente àquele som (no caso do super-8, o som fica 18 fotogramas antes da imagem). Assim, sempre que se filmava com som direto era preciso tomar cuidado para não começar a falar imediatamente após ligar a câmera, pois do contrário não haveria espaço para corte. Ou, o mais comum, cortar uma imagem e esquecer o som, deixando o fim da imagem sem som.

Havia também a possibilidade de dublar ou sonorizar posteriormente o filme, porque os projetores sonoros eram capazes de gravar, tanto quanto as câmeras. Assim, se fosse necessário inserir música ou mesmo diálogos, era possível projetar e acionar o gravador do projetor ao mesmo tempo, ligado a um microfone ou a um aparelho de som. Os projetores mais sofisticados gravavam em 2 pistas (estéreo) e mixavam duas ou três entradas, podendo facilmente sobrepor música num diálogo sem apagá-lo. A dificuldade era projetar várias vezes o filme até encontrar o sincronismo ideal, uma vez que esse processo desgastava o filme.

Uma outra maneira ainda de sonorizar era aplicando banda magnética sobre a borda das películas mudas. Isso era comum quando o usuário não dispunha de câmera sonora (que eram mais caras), mas queria sonorizar seu filme. A banda magnética era aplicada em laboratórios especializados (ou até por amadores experientes, pois era vendido um kit para aplicação caseira) e seguia-se o processo de gravação via projetor.
O problema dessa banda aplicada é que, diferentemente da banda original de fábrica, ela costumava, depois de um tempo, desprender-se da película, causando lapsos irreparáveis no som do filme.

Dois aparelhos para aplicação de Banda Magnética nas películas de Super-8

Atualmente, esse problema não existe mais simplesmente porque não há mais filmes sonoros em Super-8. O que normalmente se faz:

1) Grava-se, se for o caso, normalmente o som direto num Nagra ou DAT, iguais aos usados em produções profissionais de cinema. Se a câmera for muda, é provável que seja muito barulhenta, e nesse caso é necessário cobrí-la, ainda que não resolva totalmente o problema.
Importante: NUNCA GRAVE DIÁLOGOS MAIORES QUE 15 segundos NESTE CASO, POIS O SINCRONISMO IRÁ SE PERDER DEPOIS DESTE TEMPO.

2) Faça a edição de som normalmente em estúdio digital, até mesmo num computador dotado de programa específico para isso.

3) Telecinado o material em S-8, utilize uma ilha de edição digital não-linear, como AVID, Final Cut, Première, etc. para sincronizar. É um trabalho meticuloso pois as câmeras de S-8 não têm velocidade estável e podem variar muito, obrigando o editor a procurar vários pontos de sincronismo, mesmo que haja claquete. O resultado final, por estar em vídeo digital, é de mais fácil manipulação para contornar esses problemas de sincronismo.

Dicas: Atualmente, não há nenhum vínculo entre as câmeras de cinema e os gravadores de som delas, porque são fabricadas com tecnologia de motores regidos por cristais de quartzo, sendo que nem as câmeras e nem os gravadores variam a velocidade, podendo manter intacto o sincronismo. Entretanto, antes dessa inovação, as câmeras de cinema 16 e 35mm, para contornar este problema, uma vez que tinham motores instáveis, se utilizavam de um pulso elétrico emitido pelo motor para manter o sincronismo. O Nagra, gravador usado nestes casos, era capaz de, através de um cabo conectado ao motor da câmera, 'ler' estas variações e acompanhá-la, mantendo o sincronismo mesmo com o motor variando, pois o Nagra variava na mesma proporção. Algumas câmeras de S-8 possuem saídas que emitem este pulso.
Em geral, nas câmeras Canon, este pulso é emitido pela saída do flash, que só é utilizado em filmagem quadro-a-quadro. Se sua câmera tiver esta saída, é preciso testá-la, pois muito provavelmente será possível sincronizar a câmera a um Nagra (ou até DAT).

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