por Carlos Augusto Brandão
Com dois anos de atraso, chegou às telas brasileiras Celebridades, de
Woody Allen, o mundialmente cultuado (não tanto pelas platéias de seu
próprio país, às quais parece incomodar pela mordacidade das críticas
que faz aos seus valores e idiossincrasias ) diretor de tantos filmes
que fazem a delícia de quem os vê e não cansa de rever.
O tema - ou o alvo - escolhido por Allen desta vez é a fama e aqueles
que a buscam a qualquer preço. Em Celebridades, quem provou o doce
sabor da fama passa a depender dela como do ar que respira.
Dividido em historietas, o filme tem um bom elenco que acaba se
mostrando irregular: o shakesperiano Kenneth Branagh (Lee Simon, um
jornalista que sonha um dia poder ser roteirista), faz um clone de
Allen, imitando até seus maneirismos de expressão verbal e corporal;
Melanie Griffith faz Nicole Oliver, uma atriz que usa guarda-costas
com o estardalhaço de sirenes policiais, também não convence e até o
ótimo Joe Mantegna, de volta às telas após sete anos de ausência, faz -
sem convicção - um produtor de tevê que se apaixona pela neurótica
recém-divorciada Robon, vivida por Judy Davis, esta sim , fazendo a
melhor interpretação do filme.
Num pequeno papel , quem está bem - para espanto de muita gente - é
Leonardo Di Caprio (Brandon Darrow, um cantor de rock cheio de vontades,
afogado em drogas e mulheres).
O filme foi fotografado em preto e branco, um dos recursos favoritos de
Allen para acentuar as atmosferas ora poeticamente saudosistas, ora
assumidamente expressionistas, adotadas em alguns de seus filmes como
Broadway Danny Rose (84) Neblina e Sombras (92) e, sobretudo, Manhattan
(79).
Sven Nykvist , alter-ego de Ingmar Bergman, foi chamado mais uma vez
por Woody para fotografar um filme seu, o que já havia feito em 1989 com
Crimes e Pecados e no antológico episódio Oedipus Wrecks de Contos de
Nova York .
Celebridades teve sua estréia mundial no Festival de Cinema de Nova York
de 98. Na coletiva com alguns atores após a exibição do filme, Kenneth
Branagh, um dos presentes, não escapou da pergunta inevitável: por que
razão ele incorporou tanto os maneirismos de Woody Allen ao interpretar
o jornalista Simon ? "Nada intencional", disse, para logo depois
admitir o óbvio: "Se aconteceu, foi inconsciente", desconversou
rapidamente.
Branagh contou que recebeu uma carta de Allen dizendo que precisava de
alguém atraente para as mulheres, mas que não tivesse cara de estrela de
cinema. " Ele disse que queria alguém parecido com um sujeito
"perdedor", mas que também fosse inteligente e engraçado o suficiente
para conseguir a companhia de mulheres bonitas. Eu acho que há uma
melancolia subjacente na vida do Simon, mas gostei muito de fazer o
papel", concluiu.
Joe Mantegna, por sua vez, descreveu o seu personagem como uma pessoa
realizada e de bem com a vida: "para mim ele é aquele cara normal que a
gente vê todo dia. Eu achei ótimo que Allen tenha pensado em mim como
um sujeito comum", disse Mantegna, conhecido por viver papéis difíceis
e complexos, muitos em trabalhos com David Mamet.
Questionado sobre a diferença entre trabalhar com Mamet e com Allen, ele
saiu pela tangente: "não há dúvida que cada um tem uma maneira muito
pessoal de trabalhar, mas são dois diretores excepcionais e estou muito
satisfeito de ter trabalhado com ambos".
No final da entrevista, os atores presentes, que além de Branagh e
Mantegna incluíam também Charlize Theron e Bebe Neuwirth, falaram sobre
o tema do filme: afinal, é bom ser famoso?
Bebe resumiu a questão ao afirmar que "a fama tem algo que vem com ela e
que é muito ruim: "a gente perde a privacidade, e ser invadida o tempo
todo é horrível. Entre a fama e a privacidade, prefiro abrir mão da
celebridade", garantiu. Na mesa, apesar do número de cabeças balançando
em concordância , a frase pareceu ficar solta no ar .
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