por Carlos Augusto Brandão
A carreira de atriz de Sofia Coppola já havia começado errada. Numa
cena de O Poderoso Chefão (1972), o seu pai Francis Ford Coppola a
colocou sendo batizada - ela tinha então menos de um ano de idade - como
sendo um personagem masculino. Alguns anos depois, em O Poderoso Chefão
3 (1990), seu desempenho como a personagem Mary Corleone foi algo muito
próximo do desastroso.
Agora, na comédia dramática recém lançada As Virgens Suicidas, Sofia nos
mostra que o seu verdadeiro talento estava escondido por trás das
câmeras. A julgar pela estréia como diretora, ela deve ir bem mais
longe do que chegaria como atriz.
No coletiva após o lançamento do filme no último Festival de Sundance,
Sofia disse que não se importou com as críticas negativas ao seu
trabalho como atriz: "embora eu estivesse aberta para qualquer
experiência nova, ser atriz não estava nos meus planos; e como não era
uma coisa que eu realmente quisesse muito, o mau resultado não foi
traumático", afirmou.
As Virgens Suicidas é baseado no livro de Jeffrey Eugenides e
roteirizado pela própria Sofia. "Eu tinha lido o livro seis anos antes
de fazer o filme e adorei", contou Sofia, complementando que começou a
trabalhar no roteiro antes mesmo de conseguir os direitos do livro :
"eu tinha um sentimento que já era uma coisa que me pertencia" revelou.
A história é sobre os Lisbon, um casal conservador da classe média
americana dos anos 70 (interpretado por Kathleen Turner e James Woods) e
suas cinco filhas, com idades entre 13 e 17 anos. Todas muito bonitas,
começavam a descobrir as delícias da adolescência num lar onde pai e mãe
(sobretudo esta) faziam questão de mantê-las sob guarda e proteção
exageradamente restritas.
Quando a caçula Cecília (Anna Hall) comete suicídio sem maiores
explicações e a filha mais velha Lux (Kirsten Dunst) passa uma noite
fora de casa, o casal Lisbon resolve radicalizar. Todas as filhas são
praticamente colocadas sob prisão domiciliar ; Lux é punida pela mãe com
a destruição de toda sua coleção de discos.
A reação das jovens à tirania maternal detona uma série de eventos
surpreendentes e devastadores.
Misturando tragédia e comédia em dosagem inteligente e bem ritmada, As
Virgens Suicidas também agrada pelos desempenhos (James Woods está ótimo
como o pai dominado pela esposa e Kathleeen Turner e Kirsten Dunst
roubam as cenas em que participam) e excelente qualidade técnica -
sobretudo na fotografia de Edward Lachman, um primor de bom gosto e
sensibilidade.
Em resumo, parece que todo mundo saiu ganhando com esta escolha de
Sofia. Ela deixou de ser uma atriz para lá de medíocre para
transformar-se, ao que esta estréia indica, em diretora muito
promissora.
Feliz com a boa receptividade ao filme, Sofia brincou com a pergunta de
como é ser filha de Coppola: "ajuda bem mais do que poderia atrapalhar
; principalmente na minha nova carreira de diretora", assumiu.
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