Nomenclatura, expressividade e indicações de andamento na Música

por Filipe Salles


EXPRESSÃO

A indicação de expressividade é da máxima importância em uma obra; apesar de ser um fator subjetivo, que lida inclusive com substantivos e adjetivos abstratos, é esta indicação que diz ao intérprete o caráter de uma obra, sua atmosfera, seu espírito. Como se verifica, é fundamental que se conheça a nomenclatura pela qual se designam os sinais de expressividade na música.
Eles normalmente são indicados verbalmente, na própria partitura, de duas maneiras principais: uma no início da obra, que nos dá o andamento da obra (a velocidade de sua pulsação), e outras colocadas no interior da obra, também anotadas na partitura, e que servem para qualificar aquela determinada passagem, com um adjetivo que especifica seu caráter. Apesar de serem de naturezas um pouco diferentes, juntas, as indicações de andamento e expressão formam um todo que define com muita propriedade o sentimento de uma obra. Isso porque podemos executar um determinado ritmo de maneiras muito diferentes, principalmente no que diz respeito à velocidade com que se executa; uma mesma obra executada mais lenta ou mais rápida terá um efeito muito diferente. E, como o compositor pensou previamente sua velocidade (ou a mais próxima) de execução, existem tais indicações, acrescidas normalmente de uma expressão de sentimento.
Essas indicações de andamento e expressividade são relativamente recentes, até o final do séc. XVIII não era comum que se usasse; razão pela qual, um músico experiente, é capaz de deduzir os estados de espírito e a expressividade conforme vai tocando e analisando a música (ela sempre diz algo sobre seu próprio caráter, quanto mais se sabe ler). Apesar disso, pela diversidade de estilos e combinações advindas da era clássica, foi necessário que se padronizasse os termos. Quase todos são em italiano, podem ser assim classificados (No caso do andamento, a velocidade vai do mais lento ao mais rápido):

Andamento Expressão
Grave
Largo
Larghetto
Adagio
Adagietto
Andante
Andantino
Allegretto
Allegro
Vivace
Presto
Prestíssimo

appasionato
assai
brillante
ben marcato
cantabile
comodo
con brio
con fuoco
con spirito
com moto
energico
giusto
giocoso
grazioso
ma non troppo
maestoso
risoluto
scherzando
semplice
sostenuto
spirituoso
tranquilo
vivo

Estas duas colunas são frequentemente usadas em conjunto; é comum vermos andamentos indicando 'Allegro con spirito', 'Adagio sostenuto', ou ainda 'Allegro molto vivace'. Essa combinação nos dá uma boa indicação do caráter de cada andamento.

Dinâmica

Mudanças de atmosfera durante um andamento possibilitam a inclusão de outras indicações, anotadas no meio da partitura. Elas podem variar enormemente, pois podem tratar-se de mudança na velocidade do andamento (indicadas com Ritardando, rallentando, para ir mais devagar ou accelerando, para mais depressa), podem também indicar mudanças na dinâmica - bastante comuns, piano e pianissimo (pp e ppp) para notas fracas e suaves, e forte (f), fortíssimo (ff e fff) para notas fortes, podendo ser intermediário (mf ou mp, mezzo forte ou mezzo piano) e gradual (crescendo, diminuendo, sforzando, etc...).
Há, portanto, uma vasta gama de opções para o compositor indicar a expressividade de sua obra, mas que não passam de um reforço, é claro, do próprio caráter harmônico, rítmico e melódico da obra em questão. Estas outras indicações aparecem na partitura e são mais técnicas; quem ouve apenas percebe seu efeito, não sendo necessária uma nomenclatura para o ouvinte.

Algo mais pode ser dito sobre a nomenclatura. Algumas obras possuem, além desta terminologia, um apelido, um nome próprio que a identifica e que facilita a referência direta à obra. As razões dos nomes variam muito, mas nesse caso podemos abreviar bastante. Por exemplo, ao invés de dizer Sinfonia no.3 em Mi bemol maior op.55, podemos sem problemas nos referir a ela como a Eroica. Ou, ao invés de Sinfonia no.41 em dó maior K.551, simplesmente Sinfonia Júpiter. Assim posso me referir ao Quinto Concerto para piano de Beethoven simplesmente como Concerto Imperador. Em geral tais apelidos, que muitas vezes não são dados pelo compositor (aliás, a maioria, ou é dado pelo editor ou pelo público, sendo poucos os sub-títulos autênticos), sugerem também um potencial expressivo. A Pastoral de Beethoven (Sinfonia no.6 em Fá op.68), por exemplo, que, mesmo sem conhecê-la, já nos incita a prever, pelo título, que trata-se de uma obra de inspiração bucólica e ecológica (que está, inclusive, em moda), fazendo com que o ouvinte nutra uma expectativa sobre o teor da audição musical. Mas a audição da Pastoral revelará certamente que Beethoven transcende a pura referência pictórica da natureza. A Pastoral é a própria natureza.

copyright©2002 Filipe Salles

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