EXPRESSÃO
A indicação
de expressividade é da máxima importância em uma obra;
apesar de ser um fator subjetivo, que lida inclusive com substantivos
e adjetivos abstratos, é esta indicação que diz ao
intérprete o caráter de uma obra, sua atmosfera, seu espírito.
Como se verifica, é fundamental que se conheça a nomenclatura
pela qual se designam os sinais de expressividade na música.
Eles normalmente são indicados verbalmente, na própria partitura,
de duas maneiras principais: uma no início da obra, que nos dá
o andamento da obra (a velocidade de sua pulsação), e outras
colocadas no interior da obra, também anotadas na partitura, e
que servem para qualificar aquela determinada passagem, com um adjetivo
que especifica seu caráter. Apesar de serem de naturezas um pouco
diferentes, juntas, as indicações de andamento e expressão
formam um todo que define com muita propriedade o sentimento de uma obra.
Isso porque podemos executar um determinado ritmo de maneiras muito diferentes,
principalmente no que diz respeito à velocidade com que se executa;
uma mesma obra executada mais lenta ou mais rápida terá
um efeito muito diferente. E, como o compositor pensou previamente sua
velocidade (ou a mais próxima) de execução, existem
tais indicações, acrescidas normalmente de uma expressão
de sentimento.
Essas indicações de andamento e expressividade são
relativamente recentes, até o final do séc. XVIII não
era comum que se usasse; razão pela qual, um músico experiente,
é capaz de deduzir os estados de espírito e a expressividade
conforme vai tocando e analisando a música (ela sempre diz algo
sobre seu próprio caráter, quanto mais se sabe ler). Apesar
disso, pela diversidade de estilos e combinações advindas
da era clássica, foi necessário que se padronizasse os termos.
Quase todos são em italiano, podem ser assim classificados (No
caso do andamento, a velocidade vai do mais lento ao mais rápido):
Andamento |
Expressão |
Grave
Largo
Larghetto
Adagio
Adagietto
Andante
Andantino
Allegretto
Allegro
Vivace
Presto
Prestíssimo |
appasionato
assai
brillante
ben marcato
cantabile
comodo
con brio
con fuoco
con spirito
com moto
energico
giusto
giocoso
grazioso
ma non troppo
maestoso
risoluto
scherzando
semplice
sostenuto
spirituoso
tranquilo
vivo
|
Estas duas
colunas são frequentemente usadas em conjunto; é comum vermos
andamentos indicando 'Allegro con spirito', 'Adagio sostenuto', ou ainda
'Allegro molto vivace'. Essa combinação nos dá uma
boa indicação do caráter de cada andamento.
Dinâmica
Mudanças de atmosfera durante um andamento possibilitam a inclusão
de outras indicações, anotadas no meio da partitura. Elas
podem variar enormemente, pois podem tratar-se de mudança na velocidade
do andamento (indicadas com Ritardando, rallentando, para ir mais
devagar ou accelerando, para mais depressa), podem também
indicar mudanças na dinâmica - bastante comuns, piano e pianissimo
(pp e ppp) para notas fracas e suaves, e forte (f),
fortíssimo (ff e fff) para notas fortes, podendo
ser intermediário (mf ou mp, mezzo forte ou
mezzo piano) e gradual (crescendo, diminuendo, sforzando,
etc...).
Há, portanto, uma vasta gama de opções para o compositor
indicar a expressividade de sua obra, mas que não passam de um
reforço, é claro, do próprio caráter harmônico,
rítmico e melódico da obra em questão. Estas outras
indicações aparecem na partitura e são mais técnicas;
quem ouve apenas percebe seu efeito, não sendo necessária
uma nomenclatura para o ouvinte.
Algo mais pode ser dito sobre a nomenclatura. Algumas obras possuem, além
desta terminologia, um apelido, um nome próprio que a identifica
e que facilita a referência direta à obra. As razões
dos nomes variam muito, mas nesse caso podemos abreviar bastante. Por
exemplo, ao invés de dizer Sinfonia no.3 em Mi bemol maior op.55,
podemos sem problemas nos referir a ela como a Eroica. Ou, ao invés
de Sinfonia no.41 em dó maior K.551, simplesmente Sinfonia Júpiter.
Assim posso me referir ao Quinto Concerto para piano de Beethoven simplesmente
como Concerto Imperador. Em geral tais apelidos, que muitas vezes
não são dados pelo compositor (aliás, a maioria,
ou é dado pelo editor ou pelo público, sendo poucos os sub-títulos
autênticos), sugerem também um potencial expressivo. A Pastoral
de Beethoven (Sinfonia no.6 em Fá op.68), por exemplo, que, mesmo
sem conhecê-la, já nos incita a prever, pelo título,
que trata-se de uma obra de inspiração bucólica e
ecológica (que está, inclusive, em moda), fazendo com que
o ouvinte nutra uma expectativa sobre o teor da audição
musical. Mas a audição da Pastoral revelará
certamente que Beethoven transcende a pura referência pictórica
da natureza. A Pastoral é a própria natureza.
copyright©2002
Filipe Salles
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