Ópera 
       
       
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       por 
        Filipe Salles 
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    A 
      ópera é um dos temas mais complexos da música; só 
      ela daria um tratado inteiro. Aqui, não posso me ater com tanta profundidade, 
      primeiro porque existem um sem-número de estilos e correntes diversas 
      que nos fornecem as diretrizes arquitetônicas sobre as quais se apóiam, 
      e segundo porque meu repertório operístico não é 
      tão vasto ao ponto de poder esmiuçá-lo com grande relevância. 
      Mesmo assim, posso traçar algumas linhas gerais bastante úteis 
      ao leigo. 
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      Origens 
       
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    | A 
      palavra é da mesma origem que Opus, e representa, em latim, 
      o plural de "obra". Parece muito significativo que ela tenha sido 
      inventada no final da Renascença, mais precisamente em 1597. A característica 
      mais marcante deste período, e que justifica seu título de 
      fazer algo renascer, foi a necessidade da cultura européia promover 
      uma retomada do conhecimento científico, estético e filosófico 
      da antigüidade clássica (Grécia e Roma) e colocado tal 
      conhecimento em contraposição aos dogmas existentes pela ditadura 
      eclesiástica. O resultado foi uma expansão cultural inédita 
      no ocidente, que se refletiu formidavelmente na arte. Todos conhecem bem 
      a Arte Renascentista, que até hoje perdura, através de nomes 
      como Michelângelo e Leonardo, como das mais perfeitas e belas já 
      criadas pelo homem, referência estética atemporal.  | 
  
   
    O 
      cenário musical evoluiu igualmente, mas foi necessário que 
      antes houvesse a absorção estética de todos os conceitos 
      da antigüidade. Passou-se o trecento, o quattrocento 
      e somente no final do cinquecento, é que este ideal estético 
      foi aplicado satisfatoriamente à música. É fato que 
      os gregos, naquilo que chamavam arte poética (que englobava a poesia 
      e o teatro), empregaram recursos sonoros bastante sofisticados, mesclando 
      palavras e música para criar uma emoção específica 
      (Aristóteles descreve bem os fins da tragédia em sua Poética), 
      a chamada catarse. Mas a música até o cinquecento não 
      tinha elementos para mesclar ambas as artes, uma vez que o estilo vigente 
      era essencialmente contrapontístico (que se deve à descoberta 
      e expansão da polifonia, antes amarrada pela ditadura eclesiástica 
      do cantochão). Ficaria muito complicado distribuir papéis 
      a cantores quando a onda da música era trabalhar com várias 
      melodias ao mesmo tempo (o contraponto). 
      Assim, apenas no fim dos anos 1500 é que a idéia de uma Obra 
      que unisse poesia, dramaturgia e música pôde tomar forma. A 
      literatura tinha Shakespeare, Cervantes, Molière, Racine, a pintura 
      tinha Caravaggio, Rembrandt, El Greco (só para citar alguns, e sem 
      falar nos cientistas todos), e faltava um correspondente a altura na música. 
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          | A 
            ópera nasceu, portanto, do estudo de alguns poetas e músicos 
            de Florença (Itália) no ideal da tragédia, espelhada 
            na poética aristotélica de estrutura, mas essencialmente 
            modificada para satisfazer necessidades musicais e dramáticas 
            do pré-barroco. Os primeiros librettos (o texto da ópera, 
            semelhante à um poema dramático, que serve à 
            encenação e que deverá ser musicado) foram escritos 
            pelo poeta Ottavio Rinuccini, e, não por acaso, todos tiveram 
            como tema a mitologia greco-romana, a maioria com várias reincidências: 
            Dafne (1597, a primeira que pode ser chamada de ópera) 
             e Euridice (1600, do mesmo autor - existe uma outra Euridice, 
            do mesmo ano, de Giulio Caccini), ambas com música de Jacopo 
            Peri (1561-1633). Eram ainda bastante rudimentares em termos de 
            narrativa dramática. Como toda experiência pioneira, 
            ainda não estavam firmes seus alicerces, e as óperas 
            eram colagens de melodias e árias que por coincidência 
            falavam da mesma coisa. | 
            
            Jacopo 
            Peri (1589) | 
         
       
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            Claudio 
            Monteverdi | 
          Um 
            dos mais importantes compositores deste período,  Claudio 
            Monteverdi (1567-1643), foi quem estabeleceu todas as bases estilísticas, 
            arquitetônicas e estéticas para o desenvolvimento pleno 
            da ópera. Ele foi o único, nestes primórdios, 
            capaz de tratar a ópera como uma unidade narrativa coesa, e 
            não um conjunto de árias formando uma história. 
            Além disso, tratou de acrescentar dramaticidade às árias, 
            expressividade advinda do potencial de união das palavras, 
            ação e da música, gerando efeitos musicais inéditos 
            e fascinantes, abrindo o período barroco. Suas peças 
            mais famosas (e também as únicas que nos chegaram inteiras, 
            são Orfeu (1607) e L'incoronazione di Popea (1642). 
            Monteverdi também escreveu uma Dafne em 1608.  | 
         
       
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      Ópera 
      Barroca 
       
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    Considerando 
      então a entrada de um novo período, o barroco, a ópera 
      irá desenvolver suas habilidades narrativas tomando por base o estilo 
      de Monteverdi. Os temas mitológicos continuavam a manter hegemonia 
      sobre os demais temas, e assim temos Teseu (1675) de Jean-Baptiste 
      Lully (1632-1687);Dido e Enéas (1689), de Henry Purcell 
      (1658-1695); Hippolyte et Aricie (1733), Castor & Polux 
      (1737), ambas de Jean-Phillipe Rameau (1683-1764). 
      Lully foi o responsável por acrescentar uma sinfonie, isto 
      é uma abertura (a primeira vez que se usou o termo sinfonia foi para 
      designar um prólogo instrumental para a ópera). Consistia 
      de uma introdução lenta e majestosa, seguida por um movimento 
      rápido e desfecho lento. Foi desenvolvida mais tarde como gênero 
      da 'Abertura' e da própria 'Sinfonia' como conhecemos, e esta estrutura 
      era chamada 'Ouverture française'. 
      Haendel também escreveu muitas óperas, mas a qualidade 
      vocal de sua música está manifestada potencialmente num outro 
      gênero, que será tratado em outro tópico, o oratório. 
      O mesmo se pode dizer de Vivaldi: Suas quase 40 óperas estão 
      hoje completamente esquecidas, simplesmente porque seus concertos são 
      muito mais originais e cativantes, constituindo sua espinha dorsal produtiva. 
       
       
      
         
           
             
              Cenário 
              da suntuosa ópera barroca 'Il Pomo d'oro' (1666) de Antonio 
              Cesti (1623-1669) 
               
           | 
         
       
       Embora a ópera 
      barroca seja dotada de uma verve melódica intensamente rica e sobretudo 
      de uma beleza platônica, havia uma prática muito comum que 
      espelhava a necessidade preemente de realizar a todo o custo uma obra em 
      função de seu potencial estético. Essa soberania do 
      refinamento estilístico era conquistada, ainda que artificialmente, 
      pela tradição dos castrati. Execrada hoje como desumana, 
      o hábito de escolher um membro da família, ainda pequeno, 
      para se dedicar à música era equivalente a escolher a função 
      sacerdotal. A fim de que a voz fosse preservada, tirava-se os testículos 
      jovens dos futuros cantores, dando-lhes, realmente, uma voz privilegiada, 
      mas também uma aparência física um tanto disforme. O 
      último dos castrati morreu em 1922. 
      A ópera barroca rendeu um grande legado, utilizado até fins 
      do séc. XIX, que foi o bel canto. O bel canto é 
      um estilo de canto, aplicado à temática das óperas, 
      e que se traduz pelo refinamento e intensidade da expressão melódica, 
      ou seja, a melodia é tão bela e intensa que ela entra na memória 
      com facilidade. Este recurso nasceu junto com uma ópera menos dramática 
      (do estilo de Monteverdi) e mais lírica, e é atribuída 
      a Alessandro Scarlatti (1659-1725). Daí vem a expressão 
      'música lírica' para designar canto ou mesmo a própria 
      ópera.  | 
  
   
    | A 
      riqueza da ópera barroca não pára por aí. Uma 
      tradição bastante sui generis era o hábito de apresentar 
      um pequeno interlúdio cômico nos intervalos das óperas 
      sérias. Esta peça era na verdade uma pequena cena montada 
      com sentido irônico, apenas para distrair o público durante 
      a troca de figurinos e cenários da ópera principal. O problema 
      é que tal prática acabou tomando rumo próprio, levando 
      alguns compositores a especializarem-se nesses interlúdios, acrescentando-lhes 
      dimensão autônoma. Este gênero foi conhecido como Ópera 
      Bufa, e conta com dois bons exemplos, conhecidos deste lado do atlântico: 
      La Serva Padrona (1733), de Giovanni Batista Pergolesi (1710-1736), 
      e Il Matrimonio Secreto (1792), de Domenico Cimarosa (1749-1801). | 
  
   
     
      Ópera 
      Clássica 
       
     | 
  
   
    Após 
      o período renascentista e barroco, desenvolve-se uma outra vertente 
      de estilo musical, o tão famoso classicismo, e que irá igualmente 
      trabalhar sua facção operística equivalente à 
      música de concerto praticada normalmente. A ópera clássica, 
      manifestada pela técnica melodiosa do bel canto, terá 
      como porta-vozes alguns nomes de grande relevância, como Rameau, Gluck, 
      Haydn, Mozart 
      Orfeu e Euridice (1767) e Iphygénie en Tauride (1779) 
      de Christoph Willibald von Gluck (1714-1787), reformador da ópera 
      até então vigente e postulador dos elementos que darão 
      bases ao classicismo na ópera, assim como pequenas pinceladas no 
      que seria mais tarde o drama musical de Wagner. 
      No que diz respeito à estrutura da ópera clássica, 
      sua principal característica é a consolidação 
      da forma estrutural, já algo experimentado no barroco, mas padronizada 
      aqui, que é a divisão de cada parte em árias, duetos, 
      coros, intermezzos orquestrais, etc..., algo muito parecido com os modernos 
      musicais cinematográficos, que tem a trama da história interrompida 
      para que os atores cantem e dancem. Essas divisões na ópera 
      eram muito bem delineadas, embora o preenchimento da ação 
      fosse alternado entre música e diálogos rápidos (os 
      recitativos).  
      Apenas o Singspiel, gênero desenvolvido na Alemanha, tinha 
      longas partes faladas entre os números musicais. Destarte surgiram 
      grandes óperas, e estabeleceu-se uma distinção de gêneros 
      dentro da própria produção operística. Os principais 
      eram a opera seria, e a ópera cômica. A opera 
      seria tratava de assuntos épicos e engrandecedores, a ópera-cômica 
      era ópera de temática ligeira, sem pretensões além 
      da pura diversão, muitas vezes confundidas com óperas-bufas, 
      estas sim, de conteúdo satírico e intenções 
      humorísticas. Ambos se utilizavam, de maneira exagerada ou não, 
      do bel canto, que, de início, era caracterizado apenas pela 
      total supremacia da linha melódica vocal, ou seja, o prazer em ouvir 
      melodias cantadas de maneira rebuscada e intensa. Depois, adquiriu maior 
      envergadura e abarcou outros estilos.  | 
  
   
    Joseph 
      Haydn não foi propriamente um bom compositor de óperas, 
      apesar de uns dez títulos de sua autoria. Quase nenhuma é 
      conhecida e também não aparecem com freqüência 
      nos programas das casas de ópera do mundo. Já Wolfgang 
      Amadeus Mozart (1756-1791) é uma espécie de porta-voz 
      do estilo clássico operístico, mas apenas em termos de estilo 
      musical, uma vez que, ao contrário de Gluck e outros autores, Mozart 
      preferiu temas sociais e psicológicos ao invés dos mitológicos 
       
      
        
          | tradicionais. 
            Sendo criador dos mais geniais em qualquer gênero que se aventurasse, 
            não precisou fazer muito esforço para criar três 
            ou quatro clássicos eternos da ópera, como As Bodas 
            de Fígaro, Don Giovanni e a Flauta Mágica. Mozart 
            foi responsável por uma grande evolução na dramaticidade 
            da ópera. Como ainda se buscavam temas heróicos ou míticos, 
            muito do que a ópera tratava era destinado à platéias 
            afortunadas, de algum conhecimento poético e/ou artístico, 
            coisa que apenas era compartilhado pelas cortes e nobreza. Não 
            que tais óperas não fossem de boa qualidade,mas a reincidência 
            abusiva nestes temas acabou por saturar as combinações 
            temáticas, fazendo com que estas óperas ficassem cada 
            vez mais desinteressantes. Mozart foi o primeiro compositor que teve 
            a coragem de, a despeito de sua teimosia, enfrentar o protocolo oficial 
            das casas de ópera e escrever música para comédias 
            e dramas mais 'humanos', dando-lhes uma dimensão muito mais 
            abrangente de assuntos e de público. | 
           
              
              Figurino para o personagem Papageno, da 'Flauta Mágica' (1791) 
           | 
         
       
      Já Beethoven 
      não costuma figurar nos compêndios de ópera com muito 
      destaque porque só escreveu uma (Fidelio, 1804, apesar de 
      revisada várias vezes), e não é o melhor exemplo de 
      sua grandeza musical; citam-no mais por respeito à sua imensa contribuição 
      para as artes. Mas Beethoven tem um grande mérito na história 
      da Ópera. Foi o primeiro grande compositor que não precisou 
      dela para alcançar projeção e fama, o que indica mudança 
      de ares no gosto estético pré-romântico. | 
  
   
    Já 
      nessa época, final do séc. XVIII, O bel canto foi se 
      tornando extremamente refinado na Itália, vindo, logo em seguida, 
      a encabeçar uma série de compositores que  
      
         
           
             
              Gioacchino 
              Rossini, já no final da vida 
           | 
          se 
            tornaram mestres nessa arte. Através deles, a própria 
            ópera evoluiu pouco mais em estrutura e temática. Era 
            dominado pelo monopólio italiano de Vincenzo Bellini (1801-1835), 
            Gioacchino Rossini (1792-1868) e Gaetano Donizetti (1797-1848). 
            Predominam os temas lendários, como Guilherme Tell (1829), 
            Semíramis (1823) de Rossini, histórias fantásticas, 
            muitas de verve trágica, como La Sonnanbula (1830), 
            e Norma (1831) de Bellini; O Elixir do Amor (1832) de 
            Donizetti e óperas-cômicas, que descendem da ópera-bufa 
            barroca (O Barbeiro de Sevilha (1816), La Gazza Ladra (1817), 
            ambas também de Rossini). Na obra destes três mestres 
            italianos se encontra o que há de mais refinado, o ápice, 
            da exploração do bel canto, do virtuosismo vocal. 
            Todos fizeram enorme sucesso em vida e gozaram de regalias dignas 
            de um monarca.  | 
         
       
      Apesar disso, 
      Rossini, pela fluidez melódica, temática e narrativa de suas 
      ópera, é considerado genericamente superior aos demais. 
      Nesta época, quando o bel canto atingiu seu apogeu, começaram 
      a classificar (tanto compositores como críticos) a natureza das árias. 
      Nelas, os solistas vocais empregavam toda asua maestria para levar o público 
      às lágrimas - ou ao delírio. Surgiram as árias 
      de bravura, as árias cantabiles (mais melódicas), ariettas 
      (ou cavatinas), mais breves e simples. Vem daí o hábito de 
      romper aplausos ao término das árias mais contundentes. 
      As últimas obras de cada um deles já preconizam sons eminentemente 
      românticos, é na estrutura clássica que se apóiam, 
      mas o caminho será definitivamente aberto por Carl Maria von Weber 
      e Giacomo Meyerbeer, que apesar do primeiro nome italiano, era alemão, 
      filho de um rico judeu berlinense.  | 
  
   
     
      Ópera 
      Romântica 
       
     | 
  
   
     
      Carl Maria von Weber (1786-1826) não escreveu muitas óperas. 
      Era muito versátil como compositor, tendo se dedicado a vários 
      outros gêneros, como sinfonias e concertos, música de câmara 
      e solos de piano. Mas acabou ficando mesmo conhecido por suas óperas, 
      principalmente O Franco-Atirador (1821), Eurythane (1823) 
      e Oberon (1826). Weber é tido como o criador da ópera 
      alemã genuína. Até então, todos os compositores 
      de língua alemã - com exceção de Mozart - escreviam 
      as óperas em italiano ou, se fosse em alemão, em estrutura 
      italiana. Weber, que já é romântico, estabelece uma 
      nova relação entre as partes da ópera, sendo o primeiro 
      a utilizar temas da própria ópera em suas aberturas (antes, 
      a abertura não tinha nenhuma relação temática 
      com a ópera que se seguia). 
       
      
         
          | Giacomo 
            Meyerbeer (1791-1864), muito ao contrário dos demais, foi 
            um compositor que, pela sua natureza familiar, essencialmente empreendedora, 
            comercial, soube perceber o momento pela qual o grande público 
            europeu - diga-se, a recém ascendente burguesia - passava e 
            aplicou seus esforços em tratar a música e a ópera 
            nesta direção. Qual era? o grande espetáculo 
            teatral. A Ópera era tratada como a maior expressão 
            possível nas artes, a Arte Maior, que unia a poesia, dramaturgia, 
            música e artes plásticas (novamente o arquétipo 
            da tragédia grega?) numa só concepção 
            estética. Balzac, por exemplo, admirava mais Rossini que Beethoven, 
            mais Meyerbeer que Mozart. A ópera passou a ser superestimada, 
            e os recursos barrocos e clássicos pareceram pobres para fazer 
            o público desfrutar de todos os seus efeitos. | 
            
            O jovem 
            Meyerbeer | 
         
       
        
      
         
           
             
              Cartaz 
              de divulgação da "Africana" de Meyerbeer 
           | 
          Meyerbeer 
            entra em cena justamente criando um novo gênero, a 'Grande Ópera', 
            que se traduzia justamente num espetéculo cênico de primazia 
            épica. Tudo deveria ser grandioso, a música, as palavras, 
            o cenário, embora os temas não precisassem mais ser 
            míticos e heróicos. Exemplos dessa arte hoje são 
            escassos, acabaram por passar por prolixos, mas há Robert 
            le Diable (1831), Les Huguenots (1836) e L'africaine 
            (1864). 
            De certa maneira, há um pouco desta estética grandiosa 
            nas óperas de Wagner, e também de Berlioz. 
            Hector Berlioz (1803-1869), compositor do alto romantismo francês, 
            essencialmente dramático, escreveu muita música sinfônica 
            e religiosa, sendo mais conhecido por sua Sinfonia Fantástica 
            (1830) e por seu Tratado de Instrumentação e Orquestração. | 
         
       
       
      
        
          Mas 
            no campo da ópera, também compôs algumas pérolas 
            da literatura operística do romantismo: Béatrice 
            et Bénédict (1862), La Damnation de Faust 
            (1846, que alguns consideram sua obra-prima) e Les Troyens 
            (1859).  
            Logo em seguida, Wagner irá sacudir radicalmente as bases da 
            composição dramática.A era romântica da 
            ópera se divide em duas grandes facções, os wagnerianos 
            e os anti-wagnerianos.  | 
           
             
              Cenário 
              de Delacroix para a primeira montagem da Danação do 
              Fausto de Berlioz (1846) 
           | 
         
       
      
     | 
  
   
     
      Wagner 
       
     | 
  
   
     
      
         
           
             
              Wagner 
               
           | 
          Wilhelm 
            Richard Wagner (1813-1883) foi uma das figuras mais poderosas 
            e controvertidas das artes. Polêmico, grandioso, egocêntrico 
            e genial, Wagner é um capítulo à parte na história 
            da música, não só por ter revolucionado a forma 
            tradicional da ópera, mas até mesmo por ter deixado 
            de escrevê-las, e as substituído por outra concepção 
            cênica, o Drama Musical. O bel canto havia marcado profundamente 
            a estrutura da ópera, com uma essência lírica 
            e melodiosa, com floreios e as divisões convencionais de cada 
            seção, e assim padronizado um estilo corrente e dogmático. 
            O que Wagner fez foi aproximar, mais do que nunca, a ópera 
            da essência trágica grega no que chamou de "Obra 
            de Arte Total", onde música, drama, dança, pintura 
            e poesia são um só elemento, indissolúveis e 
            constantes.Não há mais divisões entre árias, 
            coros, duetos ou trios; o discurso é sinfônico, organicamente 
            trabalhado junto à ação dramática e ininterrupto. | 
         
       
       Wagner começou 
      escrevendo tradicionalmente à maneira de Gluck e com uma influência 
      pomposa da grande ópera de Meyerbeer, e assim escreveu As Fadas 
      (1834), Rienzi (1840) e O Navio-Fantasma (1841). Depois, começou 
      a utilizar uma técnica desenvolvida por Berlioz, a "idéia 
      fixa", e a adaptou à ópera como Leitmotiv, ou "Motivo 
      Condutor", onde um tema percorre a obra toda como signo sinal de determinado 
      personagem ou seu estado de espírito, por vezes ambos. Nesta fase 
      compôs duas obras-primas, Tannhäuser (1845) e Lohengrin 
      (1848), baseados na mitologia germânica que logo em seguida seria 
      sua maior fonte de inspiração. A partir de então desenvolveu 
      as premissas teóricas do que seria a obra de arte ideal, projetou 
      e construiu, com ajuda do rei Ludwig da Baviera (grande admirador de Wagner 
      e seu mecenas) um teatro especialmente para a encenação destas 
      obras - o teatro de Bayreuth, que foi, inclusive, durante muitos anos, o 
      melhor teatro do mundo em termos acústicos - e  
      
         
           
             
              Figurinos 
              para a montagem  
              de 1876 de 'A Valquíria' 
           | 
          começou 
            a escrever, já como Dramas Musicais e não mais como 
            óperas, a maior saga dramática que já foi posta 
            em música: O Anel dos Nibelungos, divididos em quatro 
            dramas, O Ouro do Reno (1854), A Valquíria (1856), 
            Siegfried (1871) e Crepúsculo dos Deuses (1874). 
            Juntas, esta tetralogia tem quase 20 horas de duração, 
            com cada ato, por sua vez, durando mais que uma hora sem interrupção 
            alguma do discurso musical (O Ouro do Reno, a primeira, é 
            na verdade um prólogo, e não tem nem ao menos divisão 
            de atos). Como se não bastasse, interrompeu duas vezes a composição 
            do Anel para escrever outros dois grandes dramas musicais, 
            Tristão e Isolda (1859), a música mais sensualmente 
            erótica já escrita, por suas harmonias suspensas e inseguras, 
            e suas melodias cromáticas que beiram os limites do sistema 
            tonal (que inclusive foi o principal fator que desencadeou a música 
            moderna), | 
         
       
        
      
         
          | e 
            Os Mestres Cantores de Nurenberg (1867), sua única comédia, 
            cuja execução por vezes ultrapassa 5 horas. Coroou sua 
            carreira e sua obra com um último drama musical baseado na 
            mitologia fervorosamente cristã da Alemanha, a busca do Santo 
            Graal, na mais mística de todas as obras sinfônicas-dramáticas 
            para o palco, Parsifal (1882). Só por aí já 
            dá para se ter uma idéia da revolução 
            estética que este homem promoveu. Absolutamente ninguém 
            no mundo das artes ficou-lhe indiferente. Ao unir a narrativa sinfônica 
            (através de seu grande mestre Beethoven) à ação 
            dramática do palco e das vozes, Wagner não influenciou 
             | 
           
             
              idem, 
              1876 
           | 
         
       
       apenas o mundo 
      da ópera, mas de toda a música da segunda metade do século 
      XIX em diante, e daí sua importância capital para a música 
      como um todo, e não apenas para o universo operístico, antes 
      nitidamente separado das demais manifestações puramente instrumentais. 
        | 
  
   
     
      O Verismo 
      e a Ópera nacionalista 
       
     | 
  
   
    Da 
      mesma forma com que Wagner seduziu os artistas com sua sonoridade etérea 
      e grandiloqüente, outros tantos foram fervorosos detratores de sua 
      arte, demasiadamente moderna para os padrões da época, e nesta 
      segunda facção, os anti-wagnerianos, na ópera foram 
      representados pela escola verista. O verismo (em italiano, realismo) é 
      uma corrente também italiana e por eles dominada (impressionante 
      como os italianos gostam de espetáculos - vide os circos romanos), 
      que procurava tratar de  
      
        
            
            Pietro 
            Mascagni, um dos mais expoentes compositores veristas 
             
             | 
          temas 
            mais trágicos - com finais realmente trágicos, chegando 
            ao melodrama puro - e mais humanos, mais verossímeis, em outras 
            palavras, para diferenciarem-se dos temas míticos da ópera 
            renascentista e barroca, e que seria o equivalente do cinema neo-realista 
            de Rosselini e De Sica. O verismo conta com a estrutura tradicional 
            interna baseada em divisões formais de números isolados, 
            mas que foram levadas a conseqüências dramáticas 
            de ímpeto intenso, alguns chegando à essência 
            do melodrama. Dentro desta verossimilhança pretendida, os temas 
            passaram a ser muito mais ecléticos, ainda haviam alguns mitos 
            mas a inclusão de libretos baseados na literatura romântica, 
            de Goethe, Hugo, Byron, Dumas (e Shakespeare, mas por seu caráter 
            atemporal), por exemplo, foi substancialmente maior.  | 
         
       
      
        
          |  
            E ainda haviam libretos originais, cuja colaboração 
            entre escritores e compositores veio a se mostrar das mais frutíferas. 
            Seus principais expoentes, na Itália são Giuseppe 
            Verdi (1813-1901), Giacomo Puccini (1858-1924), Ruggero 
            Leoncavallo (1857- 1919, I Pagliacci) e Pietro Mascagni 
            (1863-1945, Cavaleria Rusticana), Almicare Ponchielli 
            (1834-1886, La Gioconda) e, na França, Georges Bizet 
            (1838-1875), que tem o inexplicável mérito de ter escrito 
            apenas quatro óperas em suavida, sendo uma delas, a Carmen 
            (1875), considerada, com toda a razão, entre as melhores do 
            mundo - por isso morreu cedo -, Charles Gounod (1818-1893, 
            Fausto) e Jules Massenet (1842-1912, Thaís). 
            Uma escola à parte, com elementos wagnerianos, mas principalmente 
            com uma preocupação estética voltada para a busca 
            das raízes musicais e folclóricas de cada região, 
            principalmente no  | 
            
            Cartaz 
            da Ópera 'La Gioconda' de Almicare Ponchielli, que contém 
            a famosa 'Dança das Horas' | 
         
       
      
        
           
            leste europeu, foi a ópera na Rússia de Modest Mussorgsky 
            (1839-1881, Boris Godunov), Alexander Borodin (1833-1887, 
            Príncipe Igor) e Piotr Tchaikovsky (1840-1893, 
            Eugene Onegin; Dama de espadas, etc.. - este mais verista e 
            ocidentalizado) e na Boêmia de Léos Janacék 
            (1854-1948) e Bedrich Smetana (1824-1884), que formaram os 
            expoentes da chamada ópera nacionalista. 
            Sem sombra de dúvidas, o maior compositor verista foi Giuseppe 
            Verdi. Nascido ironicamente no mesmo ano que Wagner, Verdi 
            foi seu principal opositor estético, embora tal consciência 
            crítica tivesse partido mais do público e dos cronistas 
            da época do que propriamente deles, que aliás, nunca 
            se encontraram pessoalmente. Ambos estavam cientes e seguros de suas 
            respectivas responsabilidades para com a música, e desenvolveram 
            trabalhos dos mais relevantes com | 
            
            Georges 
            Bizet | 
         
       
       parâmetros 
      estéticos bastante distintos. Enquanto para Wagner a parte vocal 
      é tratada como instrumento da orquestra, para Verdi a música 
      e as palavras têm autonomia própria, e cabe ao compositor encaixá-las 
      com competência. Por essa razão, Verdi possuía um senso 
      inato de coerência teatral, o que possibilitava um aproveitamento 
      dramático no palco muito mais verossímil e palpável 
      que o drama de Wagner. 
       
      
         
           
              
               
              Giuseppe Verdi 
               
           | 
           
             A 
              intuição teatral de Verdi é muito mais prática 
              e funcional no palco do que a idealizada por Wagner, e por essa 
              razão, a encenação wagneriana permite uma grande 
              ambigüidade de interpretações cênicas em 
              suas aventuras mitológicas. Mas, como pode-se perceber, são 
              dois objetivos distintos, perfeitamente alcançados em ambos 
              os lados. 
              Verdi começou compondo uma ópera cômica, num 
              estilo galante e pouco original, trabalho este que foi interrompido 
              pelo mais duro golpe de sua vida, a morte da esposa e dos dois filhos 
              pequenos. Como tinha um contrato a cumprir para com o editor, precisou, 
              neste clima funesto, terminar a ópera. O fracasso maciço 
              dela fez Verdi, amargurado, jurar nunca mais compor. Não 
              se sabe exatamente por que vias obscuras do destino,o empresário 
              do teatro conseguiu convencê-lo a escrever de novo,e então 
              nasce sua primeira obra-prima, Nabucco (1841). 
           | 
         
       
       O povo italiano, 
      oprimido pela dominação austríaca sobre um país 
      ainda fragmentado, encontrou em Nabucco seu canto de independência 
      e unificação, tornando a ópera um sucesso estrondoso. 
      A partir de então Verdi foi consagrado como o maior compositor de 
      óperas da itália e não desapontou, muito pelo contrário. 
      Continuou explorando as formas do bel canto levando-as aos extremos veristas 
      com uma elaboração cênica cada vez mais concisa e articulada, 
      chegando mesmo a criar personagens marcantes de uma densidade puramente 
      teatral (a exemplo de Mozart, muito tempo antes), onde a música acompanha 
      solilóquios vocais árduos que não exigem apenas bela 
      voz, mas sobretudo presença de palco e eminente senso dramático. 
      As melodias, de construção precisa, sucinta e de fácil 
      memorização (a exemplo dos Lieder de Schubert), contribuiram 
      ainda mais para que sua arte fosse elevada como a apoteose da produção 
      operística. Ao todo Verdi escreveu 19 óperas, as mais famosas 
      são La Traviata (1853), Rigoletto (1851), Il trovatore 
      (1852), La Forza del Destino (1861), Aida (1870), Otello 
      (1886) e Falstaff (1893). Após obter fama e fortuna com tão 
      abundante produção, 
      
        
          | Verdi 
            preocupou-se intensamente com o ensino musical dos jovens de seu país 
            e patrocinou várias escolas e fundações de música, 
            todas de altíssimo nível. Em suas duas últimas 
            óperas, Otello e Falstaff, Verdi atingiu o apogeu de seu estilo 
            - usando inclusive elementos wagnerianos de leitmotivs - e que por 
            si só já fazem por merecer seu lugar entre os maiores 
            compositores de todos os tempos. | 
            
            Esboço 
            para os figurinos da estréia da 'Aida' (1871) | 
         
       
      
     | 
  
   
     
      Ópera 
      do Séc. XX 
       
     | 
  
   
    
      
        
            | 
          A 
            ópera entrou no século XX bastante heterogenizada, com 
            remanescentes veristas em Puccini (La Bohème 
            (1896), Tosca (1900), Madama Butterfly (1904) e Turandot 
            (1924), entre outras) e os wagnerianos em Richard Strauss, 
            cuja dramaticidade beira o expressionismo. As mais famosas são 
            Elektra (1909) e Salomé (1905). Curiosamente, 
            Richard Strauss da metade da vida em diante, abandona o expressinismo 
            dissonante e começa a escrever música com uma delicadeza 
            mozartiana, mudando radicalmente a atmosfera de suas óperas, 
            mas preservando o estilo. É o caso do Cavaleiro da Rosa 
            (1911), Intermezzo (1924), Arabella (1933) e Capriccio 
            (1942). 
             
             
            cartaz da 'Madama Butterfly' de Puccini | 
         
       
       Cita-se também 
      a importância de Pélleas et Mélisande (1902), 
      de Claude Debussy, sua única ópera e com o singular 
      mérito de não conter nenhuma linha melódica completa. 
      Um discurso musical contínuo e ao mesmo tempo fragmentado onde o 
      autor dissolve as melodias com a mesma facilidade com que as cria, deixando 
      o público e a crítica desorientados. A grande revolução 
      do século foi a Segunda escola de Viena, liderada por Arnold Schoenberg, 
      e que dissolveu o sistema tonal que sustentou 4 séculos de música 
      na Europa. O novo sistema, baseado numa série atonal, chamado sistema 
      dodecafônico, produziu muita música experimental, mas também 
      óperas de grande poder dramático, como Wozzeck (1920) 
      e Lulu (1935), de Alban Berg.  | 
  
   
     
      Opereta e 
      espetáculos musicais 
       
       | 
  
   
    |  
       Paralelamente 
        à ópera, surgiu no final do século XIX um outro gênero, 
        mais voltado para o espetáculo musical, com temas eminentemente 
        cômicos e despretenciosos, de melodias fáceis e sem nenhuma 
        preocupação trágica, a opereta, definida como "ópera 
        leve" . Seu objetivo é o entretenimento puro, embora muitas 
        obras-primas foram escritas sob esta classificação. Seus 
        grandes compositores foram Jacques Offenbach (1819-1880), Johann 
        Strauss Jr. (1825-1899, O Rei da Valsa - Não confundir com 
        Richard Strauss, que nada tem a ver com este), Otto Nicolai (1810-1849), 
        Franz von Suppé (1819-1895), e a primeira dupla, hoje tão 
        comum na música popular, Arthur Sullivan (1842-1900, compositor) 
        e William Gilbert (1836-1911, libretista). 
         
        Resumindo esta parte, a ópera é, para nós, de maneira 
        geral o que a tragédia grega foi no seu respectivo passado, uma 
        confluência de artes unidas por um fio condutor, que no caso da 
        ópera é a música. Dividem-se basicamente em dramas 
        trágicos e dramas melodramáticos, podendo em ambos estar 
        embutido um potencial cômico, sendo os primeiros representados por 
        Gluck, Mozart, Berlioz, Wagner, Richard Strauss e Berg, e os segundos 
        pelos italianos, mestres da arte do bel canto e do estilo Verista. 
         
        A orquestra utilizada pela ópera no período barroco e clássico 
        é ligeiramente maior que a utilizada em concertos, mas o romantismo 
        equaliza as duas sonoridades, chegando mesmo a inverter-se o quadro: As 
        orquestrações mais exageradas são de peças 
        sinfônicas (principalmente Mahler, R.Strauss e os Gurrelieder 
        de Schoenberg), não de óperas.  
         
        Para quem ainda acha que a única grande expressão da música 
        é a ópera, temos aqui alguns grandes compositores que nunca 
        escreveram uma ópera: Bach, Brahms, Bruckner, Mahler (apenas completou 
        uma inacabada de Weber), Chopin e Grieg. 
         
        copyright©2002 
        Filipe Salles 
         
         
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