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Germaine Krull (1897–1985): as lentes da modernidade

Walter Benjamin (1892–1940), em seu texto Pequena história da fotografia (1933), afirma que “a fotografia se liberta de certos contextos, como aqueles dados por um Sander, uma Germaine Krull, um Blossfeldt, se ela se emancipa de todo interesse fisionômico, político e científico, então ela se torna ‘criadora’. A tarefa da objetiva será a ‘visão simultânea’; o panfletário fotográfico aparece” (BENJAMIN, 2014, p. 112).

Unindo fotografia e ativismo político, Germaine Krull desenvolve uma produção repleta de imagens experimentais, as quais refletem sua trajetória complicada e cheia de experiências ao longo do início do século XX.

Krull empregou diversas técnicas fotográficas para capturar o movimento e a excitação da vida moderna na cidade. Frequentemente, suas fotografias possuíam enquadramentos e pontos de vista peculiares – ângulos extremos – produzindo composições vertiginosas, as quais se cruzavam e se sobrepunham. E com menor frequência, produziu imagens com múltiplas exposições e fotomontagens.

Outra abordagem inovadora é o livro Métal (1928), no qual Krull apresentou 64 imagens fragmentadas de construções, máquinas e estruturas metálicas com ângulos e recortes dinâmicos. Visto o livro como um todo, onde as imagens dialogam entre si em continuidade – sem limites –, as partes incitam a participação do leitor/espectador na construção mental do espaço a partir de abstrações, é o princípio da montagem do filme no livro.

Joris Ivens (1898–1989) no filme De Brug (The Bridge, 1928) retrata as mesmas características físicas das estruturas metálicas que Krull sugere em sua fotografia, no caso, a ponte elevada em Roterdã. Ambos, cineasta e fotógrafa, estavam engajados no estudo e compreensão da montagem fílmica. No livro Germaine Krull: Photographer of Modernity (1999), Kim Sichel foi a primeira a comentar o aspecto cinematográfico do livro Métal, relacionando-o às teorias da montagem de atrações de Serguei Eisenstein. As teorias desse cineasta são de fato necessárias para compreender tanto a estética observada na construção das imagens fotográficas quanto na capacidade que este livro teve de transmitir um significado político para seus contemporâneos dos anos de 1920.

 

Germaine Krull - Livro Métal (1928)

 

Germaine Krull - Sem título (Métal, Prancha 47) - 1928 - Museum Folkwang, Essen.

 

Germaine Krull - Sem título (Métal, Prancha 14) c.1925-1928 - Coleção de A. Jammes, Paris.

 

Germaine Krull - Sem título (Métal, Prancha 22) - 1928 - Museum Folkwang, Essen.

 

Germaine Krull – Autorretrato - 1925 - Coleção de Ann and Jürgen Wilde, Zülpich

 

Referências:

BENJAMIN, Walter. Pequena história da fotografia. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 2014.

MCCLENATHAN, Erin Elise. Avant-garde mechanics: montage structures in Germaine Krull’s Métal and Joris Ivens’ De Brug. Tennessee, 2010. 66f. Master of Arts - University of Tennessee.

SICHEL, Kim. Germaine Krull: Photographer of Modernity. São Paulo: Cambridge: The MIT Press, 1999.



[1] Fabiola B. Notari é artista visual e pesquisadora. É doutoranda em Literatura e Cultura Russa no Departamento de Letras Orientais (DLO/FFLCH/USP) e mestre em Poéticas Visuais pela Faculdade Santa Marcelina (FASM/ASM). Leciona História da Fotografia e Fotomontagem no Curso Superior de Fotografia no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e coordena o Grupo de Estudos Livros de artista, livros-objetos: entre vestígios e apagamentos na Casa Contemporânea.

http://casacontemporanea370.com/article/Grupo-de-Estudos-Livros-de-artista-livros-objetos-.html

Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/1828197136276074