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Shirley Baker (1932–2014): fotografias do invisível presente

por Fabiola Notari (1)

Em entrevista concedida a Val William em 1992, Shirley Baker disse: “É mágica o que a fotografia pode fazer" (2). 

 

Esta é a sensação que temos ao obervarmos suas imagens, a realidade fotografada não é apenas o registro de um determinado local numa determinada época, mas o registro sensível de um passado que se atualiza no presente, tornando-se atrativo ao observador que busca nas cenas fotografadas a narrativa, a história de suas personagens.

Com a capacidade de capturar o sério, o engraçado, o sublime e o ridículo do cotidiano simples de pessoas comuns, a câmera dessa fotógrafa desenvolve-se à margem das grandes revistas, pois suas fotografias não se encaixavam na notícia como mera informação. Shirley Baker em nenhum momento profanou suas fotografias, ao contrário, buscou mostrar por meio delas seu ideal como documentarista.

Walter Benjamin no texto Pequenos Trechos sobre Arte, publicado no livro Rua de Mão Única afirmou: “Cada manhã nos ensina sobre as atualidades do globo terrestre. E, no entanto, somos pobres em histórias notáveis. Como se dá isso? Isso se dá porque mais nenhum evento nos chega sem estar impregnado de explicações. (...) A informação recebe sua recompensa no momento em que é nova (...). Com a narrativa é diferente: ela não se esgota. Conserva a força reunida em seu âmago e é capaz de, após muito tempo, se desdobrar.” (BENJAMIN, 1997, p.276). Assim são as fotografias de Baker, a narrativa de histórias notáveis de vidas invisíveis, à margem dos grandes centros, das grandes notícias estampadas nas primeiras páginas dos jornais.

Em suas narrativas visuais, Baker documentou as cenas das ruas de Manchester, Reino Unido, principalmente as ruínas dos bairros populares que se reconstruíam após a guerra. A vida nos subúrbios pobres de Hulme e Salford se revela por meio das lentes de Baker como poesia de um mundo em rápido desaparecimento, colocando em primeiro plano o ser humano em sua complexidade e simplicidade, pois é nessa ambiguidade que suas fotografias se constroem. Seus trocadilhos visuais, muitas vezes resultado da justaposição de elementos oportunos em seu campo de visão, ressaltam com humor e surrealismo o cotidiano que escapa aos olhos da maioria dos transeuntes.

 

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Shirley Baker – Manchester, 1967

 

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Shirley Baker – Manchester, 1968

Shirley Baker - Manchester, 1962

Shirley Baker – Manchester, 1964

 

Shirley Baker – Hulme, 1965

 

Referências:

BENJAMIN, Walter. Rua de Mão Única. Trad. de Rubens R. Torres Filho e José Carlos M. Barbosa. São Paulo: Editora Brasiliense, 1997.

The Guardian Center of Photography

http://www.theguardian.com/artanddesign/2015/jul/22/shirley-baker-photographs-last-days-manchester-slums

http://www.theguardian.com/artanddesign/2014/oct/08/shirley-baker

http://www.theguardian.com/artanddesign/gallery/2014/oct/08/laughter-in-the-slums-the-best-work-of-street-photographer-shirley-baker-in-pictures

Acessado em 14 de setembro de 2015, às 18:35

The Photographer Gallery

http://thephotographersgallery.org.uk/shirley-baker-women-children-and-loitering-men-2

Acessado em 14 de agosto de 2015, às 10:20.

 

 

(1) Fabiola B. Notari é artista visual e pesquisadora. É doutoranda em Literatura e Cultura Russa no Departamento de Letras Orientais (DLO/FFLCH/USP) e mestre em Poéticas Visuais pela Faculdade Santa Marcelina (FASM/ASM). Leciona História da Fotografia e Fotomontagem no Curso Superior de Fotografia no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e coordena o Grupo de Estudos Livros de artista, livros-objetos: entre vestígios e apagamentos na Casa Contemporânea.

http://casacontemporanea370.com/article/Grupo-de-Estudos-Livros-de-artista-livros-objetos-.html

(2) Trecho editado pelo compositor Derek Nisbet. O áudio pertence à Biblioteca Britânica, na categoria História Oral da Fotografia Britânica, referência do catálogo C459/20.