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O Jantar – Uma refeição com uma grande pitada de sal

Oren Moverman, diretor já indicado ao Oscar pelo roteiro de O Mensageiro (2009), faz a escolha de começar O Jantar (2017) – em que também é roteirista, adaptando um livro homônimo – com planos detalhes muito bem executados e colocados a fim de apresentar os créditos iniciais, mas também fazendo um raio x da mente do protagonista.

Paul (Steve Coogan) e sua esposa, Claire (Laura Linney), têm um jantar marcado com Stan (Richard Gere) e sua esposa Katelyn (Rebeca Hall). Tal jantar, porém, não segue os modos que o ambiente elegante em que estão pede, há exaltação, brigas, além de constantes interrupções dos funcionários, sempre que o assunto parece começar a fluir. Apenas quando se isolam em uma sala, quase ao final do filme, que começam a falar do real assunto para que o encontro foi marcado: seus filhos cometeram um grande crime.

A trama e o modo como é ambientado em um único ambiente lembra muito Deus da Carnificina (2011), de Roman Polanski, e o diretor provavelmente bebeu de Polanski para construir sua obra. O Jantar, porém, têm algumas particularidades, às vezes particularidades demais. A primeira delas é que Paul é esquizofrênico, fato que poderia enriquecer a trama, fazê-la mais densa e reflexiva, se estivesse sozinho, mas não está, já que a segunda particularidade é que o assunto a ser tratado ali é um assunto externo e muito carregado: os filho adolescentes assassinaram uma mulher, o que fazer? Terceira particularidade, Stan é um político e está esperando por um resultado e coloca mais da sua atenção nisso do que no jantar familiar – outro fato que, se isolado, enriqueceria a trama e o personagem. E quarta particularidade: eles são uma família, Paul é irmão de Stan, e os diversos problemas familiares de infância aparecem na trama.

O resultado de tudo isso, na verdade, faz um jantar pesado e indigesto, tanto para os personagens quanto para o espectador. Os constantes flashbacks explicativos empobrecem o roteiro, que poderia ser muito mais fluido e gracioso com a diminuição deles. Moverman também se utiliza de pequenos momentos de quebra da quarta parede, artifício utilizado logo no início do filme, com o olhar do protagonista através da câmera – aparentemente com a única justificativa de dizer “ei, estou falando de você, você que vive na sociedade contemporânea”. Há uma apresentação dos personagens em grupos, os jovens, o casal Paul e Claire e o casal Stan e Kate e a apresentação do cenário principal: o restaurante, elegante e aparentemente bem caro.

A arte e a fotografia do filme, apesar das pequenas observações feitas sobre a direção e o roteiro, são trabalhadas de forma impecável; a paleta de cores e a temperatura de luz diferenciando o ambiente do restaurante – caloroso, assim como a discussão que está por vir – do ambiente dos flashbacks – sempre claro, em tons pastéis – do ambiente dos jovens delinquentes – escuro, com o preto predominante – faz com que troquemos as sensações junto com a troca de ambientes, que, como já dito, acontece por diversas vezes, a todo o momento.

A sequência de maior fascínio e mais envolvente é exatamente quando o diretor não escolhe por quebrar a discussão em flashbacks e os casais conversam, em uma sala reservada, sobre o assunto de que vieram tratar. É uma sequência de 10 minutos aproximadamente, sem interrupção de flashbacks, e é a mais longa do filme nesse sentido – também a mais parecida com Polanski, infelizmente, já que O Jantar poderia ter virado quase uma homenagem ao diretor, mas acabou partindo para o caminho de má comparação. Com constantes quedas de ritmo, Oren Moverman mostrou até um pouco de hesitação em deixar seu roteiro pautado em mais falas e menos ação.

Apesar disso, a qualidade da atuação dos atores, individualmente e em conjunto, é de chamar a atenção. Sim, são veteranos de tela, já conhecidos por sua capacidade, mas eles realmente dão vida a personagens que não parecem tão bem decididos assim. Em O Jantar a atuação foi, de longe, o prato principal. Infelizmente, fica-se com um gosto um pouco amargo na boca após a sobremesa, já que são muitas questões morais tentando a serem discutidas de uma só vez, fato que talvez tenha tornado essa opção moralizadora insuficiente.

Insertes sobre a Guerra Civil Americana, a fim de construir mais uma metáfora, também dão mais um pouco de sal para um filme que já está bem salgado. Porém, há uma metáfora divertida, quando o maître apresenta quatro tipos diferentes de queijo, cada um deles com certas características. Queijos representeando as personagens. Cômico.

Oren Moverman com certeza temperou demais um prato que poderia ser ingerido apenas com uma pitada de sal e já seria uma festa para os paladares. Mas é aquilo que dizem, é melhor exagerar do que deixar faltando e realmente, O Jantar não deixa o espectador com fome, pelo contrário, o deixa estufado. Apesar disso, abre a porta para temas que poderiam ser destrinchados e tratados com mais aprofundamento em outras obras e mostra como as relações humanas são complexas e intrigantes.

Oren Moverman, diretor já indicado ao Oscar pelo roteiro de O Mensageiro (2009), faz a escolha de começar O Jantar (2017) – em que também é roteirista, adaptando um livro homônimo – com planos detalhes muito bem executados e colocados a fim de apresentar os créditos iniciais, mas também fazendo um raio x da mente do protagonista. Paul (Steve Coogan) e sua esposa, Claire (Laura Linney), têm um jantar marcado com Stan (Richard Gere) e sua esposa Katelyn (Rebeca Hall). Tal jantar, porém, não segue os modos que o ambiente elegante em que estão pede, há exaltação, brigas, além de constantes interrupções dos funcionários, sempre que o assunto parece começar a fluir. Apenas quando se isolam em uma sala, quase ao final do filme, que começam a falar do real assunto para que o encontro foi marcado: seus filhos cometeram um grande crime.

A trama e o modo como é ambientado em um único ambiente lembra muito Deus da Carnificina (2011), de Roman Polanski, e o diretor provavelmente bebeu de Polanski para construir sua obra. O Jantar, porém, têm algumas particularidades, às vezes particularidades demais. A primeira delas é que Paul é esquizofrênico, fato que poderia enriquecer a trama, fazê-la mais densa e reflexiva, se estivesse sozinho, mas não está, já que a segunda particularidade é que o assunto a ser tratado ali é um assunto externo e muito carregado: os filho adolescentes assassinaram uma mulher, o que fazer? Terceira particularidade, Stan é um político e está esperando por um resultado e coloca mais da sua atenção nisso do que no jantar familiar – outro fato que, se isolado, enriqueceria a trama e o personagem. E quarta particularidade: eles são uma família, Paul é irmão de Stan, e os diversos problemas familiares de infância aparecem na trama.

O resultado de tudo isso, na verdade, faz um jantar pesado e indigesto, tanto para os personagens quanto para o espectador. Os constantes flashbacks explicativos empobrecem o roteiro, que poderia ser muito mais fluido e gracioso com a diminuição deles. Moverman também se utiliza de pequenos momentos de quebra da quarta parede, artifício utilizado logo no início do filme, com o olhar do protagonista através da câmera – aparentemente com a única justificativa de dizer “ei, estou falando de você, você que vive na sociedade contemporânea”. Há uma apresentação dos personagens em grupos, os jovens, o casal Paul e Claire e o casal Stan e Kate e a apresentação do cenário principal: o restaurante, elegante e aparentemente bem caro.

A arte e a fotografia do filme, apesar das pequenas observações feitas sobre a direção e o roteiro, são trabalhadas de forma impecável; a paleta de cores e a temperatura de luz diferenciando o ambiente do restaurante – caloroso, assim como a discussão que está por vir – do ambiente dos flashbacks – sempre claro, em tons pastéis – do ambiente dos jovens delinquentes – escuro, com o preto predominante – faz com que troquemos as sensações junto com a troca de ambientes, que, como já dito, acontece por diversas vezes, a todo o momento.

A sequência de maior fascínio e mais envolvente é exatamente quando o diretor não escolhe por quebrar a discussão em flashbacks e os casais conversam, em uma sala reservada, sobre o assunto de que vieram tratar. É uma sequência de 10 minutos aproximadamente, sem interrupção de flashbacks, e é a mais longa do filme nesse sentido – também a mais parecida com Polanski, infelizmente, já que O Jantar poderia ter virado quase uma homenagem ao diretor, mas acabou partindo para o caminho de má comparação. Com constantes quedas de ritmo, Oren Moverman mostrou até um pouco de hesitação em deixar seu roteiro pautado em mais falas e menos ação.

Apesar disso, a qualidade da atuação dos atores, individualmente e em conjunto, é de chamar a atenção. Sim, são veteranos de tela, já conhecidos por sua capacidade, mas eles realmente dão vida a personagens que não parecem tão bem decididos assim. Em O Jantar a atuação foi, de longe, o prato principal. Infelizmente, fica-se com um gosto um pouco amargo na boca após a sobremesa, já que são muitas questões morais tentando a serem discutidas de uma só vez, fato que talvez tenha tornado essa opção moralizadora insuficiente.

Insertes sobre a Guerra Civil Americana, a fim de construir mais uma metáfora, também dão mais um pouco de sal para um filme que já está bem salgado. Porém, há uma metáfora divertida, quando o maître apresenta quatro tipos diferentes de queijo, cada um deles com certas características. Queijos representeando as personagens. Cômico.

Oren Moverman com certeza temperou demais um prato que poderia ser ingerido apenas com uma pitada de sal e já seria uma festa para os paladares. Mas é aquilo que dizem, é melhor exagerar do que deixar faltando e realmente, O Jantar não deixa o espectador com fome, pelo contrário, o deixa estufado. Apesar disso, abre a porta para temas que poderiam ser destrinchados e tratados com mais aprofundamento em outras obras e mostra como as relações humanas são complexas e intrigantes.

 

Natália Marques é estudante de Cinema; escritora; roteirista e assistente de direção de dois curtas universitários e roteirista de quatro episódios do programa História POP da TV FAAP.