Atypical - 1ª Temporada

Muitos do que se encontra em certas séries de humor, é uma necessidade de diversão. Tanto que é possível adaptar essa “fórmula” em várias situações e até subgêneros diferentes entre si. E a Netflix já permeia essa noção em sua produção de séries, tanto as mais sérias, como Orange is The New Black, como as de pura diversão.

Desse conjunto, o serviço de streaming já se habituou com humor negro, com Santa Clarita Diet desse ano, e até na série produzida por Judd Apatow Love, debatendo os clichês numa típica situação de amor com parceiros diferentes entre si.

 Agora, numa tentativa de habituar essa visão na produção para o cenário adolescente, mas com algum diferencial na divulgação, a Netflix investe em uma série de comédia “romântica” adolescente, mas adaptando ao contexto de universo TEA – Transtorno do Espectro Autist

Nela, acompanhamos a trajetória de Sam Gadner (Keir Gilchrist), um rapaz no espectro autista que decide, por conselho de sua psicóloga, encontrar uma namorada.. O que preocupa a sua família, principalmente sua mãe (Jennifer Jason Leigh), que sempre se dedicou a protegê-lo de qualquer coisa que o atormentasse, pois acredita que ele não está pronto para lidar com emoções fortes.

 Mesmo que tenha sido lançada sem muito alarde ou com uma divulgação massiva, Atypical surpreende como uma série bem leve e agradável de assistir, pois há comédia, o que é algo muito palatável para o grande público, e também é possível notar que há um cuidado com as personagens, que se transformam ao longo da trama.

Isso acontece exatamente com a família de Sam, pois a partir do momento em que ele busca se abrir para o mundo, os membros conseguem se entender e se revelam ser mais do que já são. Por exemplo, o pai de Sam, interpretado por Michael Rapaport, que tenta mostrar a empatia por seu filho, apesar de todas as suas dificuldades e aparente rejeição. E sua mãe, que no início resistiu muito à ideia, mas que aos poucos percebe um outro lado da história.

            A série aposta na comédia, como já foi dito, mesmo que não seja tão refinada, com um tipo de humor que já possuí uma característica especifica para ser original, então se apoia muito no humor com um embasamento dramático, pois a temporada busca introduzir os elementos fundamentais do universo autista e seus dilemas e conflitos.

Sam, mesmo que deseje se relacionar, possui dificuldades e características que travam suas vontades. O tom realista o surpreende como algo muito positivo, pois abordar uma minoria numa obra de ficção é arriscado, uma vez que se corre o risco de leva-la para os estereótipos e clichês que o universo da cultura televisiva já criou anteriormente- prova disso é figura do Sheldon Cooper de The Big Bang Theory.

No lugar disso, a figura de Sam é revelada numa perspectiva de realidade, mas com certas situações que criam episódios cômicos. Entretanto, o que rouba as cenas mesmo são seus coadjuvantes. De um lado, há o amigo de Sam, Zahid (Rik Dodani), garantindo as melhores sacadas de humor pervertido, mas que também quer ver Sam bem.

E do outro temos a irmã de Sam, Casey, interpretada por Brigett Lundy-Paine. Ela pode ser a personagem de quem menos se espera ao longo da temporada, principalmente no início. Mas sua personalidade irônica e grosseira consegue cativar, pois ela vive sendo ofuscada por conta do extremo cuidado que os pais têm com Sam, e ela decide provar para todos que tem um lugar na família, com suas atitudes diferentes, mas ainda sim revelando bondade.

Mais do que desenvolver os conflitos de Sam em buscar uma namorada, a série se preocupa em mostrar as repercussões de como o universo autista de Sam afetam todos ao redor, principalmente os pais dele, pois o esforço, embora necessário, de cuidar para que Sam não seja ferido, física ou emocionalmente, é ao mesmo tempo desgastante, já que não tiveram chance de viver intensamente seus históricos individuais.

O bom também dessa série é o fato dela ser curta, tanto em duração quanto em número de episódios: são oito episódios para assistir, leves, mas sem cair numa superficialidade que prejudique um tema tão sério.

Atypical, série de comédia leve, com possibilidade de motivar a discussão sobre o universo autista de um adolescente, mas que também não deixa de lado a intenção da Netflix de fazer um entretenimento que possa ser assistido num fim de semana, e que trata com respeito os personagens e conflitos desse universo.

 

Ettore R. Migliorança é estudante de Cinema, com ênfase em roteiro e análise de filme, e já produziu dois curtas universitários