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Dunkirk: A epopeia de sobrevivência de Christopher Nolan

Por Ettore R. Migliorança

Grande vencedor de categorias técnicas do Oscar, Dunkirk, último filme de Christopher Nolan, promove a imersão do espectador no universo caótico de um dos episódios mais críticos da II Guerra

Se algo pode ser afirmado a respeito do cinema de Christopher Nolan é que ele sempre se caracterizou por buscar ir além do possível em termos de experiência cinematográfica. No sentido de que ele deseja realizar filmes de novas maneiras, criando filmes que se sobreponham aos padrões tradicionais e clássicos da linguagem do cinema americano e, principalmente, que sejam feitos para passar especificamente na tela de cinema.

Desde seu primeiro filme cultuado de investigação, Amnésia (2000), Nolan se revela como um cineasta que apresenta certo conservadorismo, seguindo os preceitos do cinema clássico, mas que almeja uma maneira de expor seu – muito peculiar - estilo narrativo.

Atualmente ele se mostra muito popular entre o público devido ao seu trabalho na última trilogia do personagem Batman (2005, 2008, 2012), em que ao mesmo tempo conseguiu expandir seu estilo para o lado mais pop e impor sua visão do super-herói de Bob Kane, realizando aquele que é  considerado o filme definitivo do personagem, sobretudo em Batman: O Cavaleiro das trevas (2008), muito por causa da icônica atuação de Heath Ledger que desempenha o vilão Coringa. E muito do sucesso e reconhecimento desses filmes fez com que ele conseguisse confiança dos grandes executivos dos estúdios, possibilitando a realização de obras autorais de grande orçamento  e com premissas bastante peculiares, como um filme de assalto passado dentro da mente humana em A Origem (2010), ou um drama familiar que tem uma jornada espacial como pano de fundo em Interstelar (2014) e agora com o seu mais recente filme Dunkirk (2017).

Ambientado no início da segunda guerra, o filme não se atrela necessariamente a personagens centrais ou a conflitos de relações dados pelo contexto da narrativa. No lugar, o filme opta em focar na Operação Dínamo, uma missão ordenada pelo primeiro-ministro da Inglaterra da época, Winston Churchill, para resgatar os soldados ingleses recuados na praia francesa de Dunkirk e que estavam sendo atacado pelas forças alemãs.

Muito do que Christopher Nolan cria em seu longa é uma noção de que a guerra em questão não é mero cenário para uma narrativa e sim um momento a ser vivido. Para evidenciar isso vemos três pontos de vista principais, de um lado vemos os soldados que estão em terra, centrados nos personagens de Finn Whitehead e Harry Styles (ídolo da música teen fazendo sua estreia no cinema) vivendo as piores cenas de violência da operação, do outro, vemos as cenas de ação aérea de Tom Hardy, respondendo ao lado mais brutal das ações de guerra e, por fim, como complemento, há o núcleo civil dos barcos comandados por Mark Rylance, que tem a missão de resgatar os soldados, talvez deixando a questão de como um cidadão comum encara uma situação extrema.

Todos os personagens, encarnados pelas atuações sólidas de seus atores, representam mais os impactos e a sensações despertadas naquele momento do que papeis claros na narrativa do conflito retratado, pois mesmo se tratando de um filme sobre uma operação de resgate, Nolan opta por filmar esse fato histórico como uma luta pela sobrevivência, no intuito de mostrar a reação desses personagens diante do momento de extrema violência que foi a Segunda Guerra. O filme, porém, não apresenta, em nenhum momento, cenas com violência explícita ou com sangue, como ocorre, por exemplo, no filme de Steven Spielberg O Resgate Do Soldado Ryan (1998), que é um dos filmes que mais se aproxima tematicamente de Dunkirk, ainda que tenha uma abordagem totalmente diferente deste.

Essa abordagem, pode-se dizer, é bastante ousada, pois apesar de optar por núcleos narrativos distintos, sem coesão ou conexões evidentes, a edição do filme consegue manipular a percepção do público para que no final seja entregue uma resolução satisfatória e até emocionante.

Diante disso, o cineasta aposta de novo na utilização da câmera IMAX, famosa por render imagens mais cristalinas e por capturar em maior formato de tela possível. O diretor já havia explorado essa tecnologia em seus filmes mais famosos. Mas agora o que Christopher Nolan enxerga é uma grande oportunidade de inserir o espectador no meio da confusão sufocante dos personagens.

Ao contrário de muitos filmes de guerra, Dunkirk atrela suas ações aos momentos de suspense incessante, em que o espectador se sente acuado a qualquer momento pelo perigo que os personagens vivem na tela, desde explosão esperadas a repentinas chuvas de balas que ameaçam as vidas dos protagonistas. E assim a uma hora e quarenta minutos de duração são passadas com uma sensação de ação ininterrupta, dispensando maiores diálogos.

Dunkirk revela novamente as grandes ambições de Christopher Nolan em termos de narrativa, pois o diretor mostra a cada filme que ele deseja recriar em sua obra uma possibilidade de imersão não somente na história, mas em cada situação com todas as suas implicações e questões, como é, no caso de Dunkirk, esse período violento e sombrio que foi a Segunda Guerra.

 

Ettore R. Migliorança é estudante de Cinema, com ênfase em roteiro e análise de filme, e já produziu dois curtas universitários