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Vingadores – Guerra Infinita: Tudo levou a isso...

Por Ettore R. Migliorança

Nova aventura do supergrupo da Marvel é resultado de 10 anos de construção para um “filme-evento” épico e corajoso

Muitos na época chamariam de suicídio comercial a proposta que veio da editora de quadrinhos Marvel Comics, cuja intenção era fundar o seu próprio estúdio de cinema independente, e ser capaz de realizar seus próprios filmes sem depender de grandes estúdios com anos de trajetória e experiência. E ainda mais, ter como primeiro desafio lançar como filme inicial, um longa de um personagem desconhecido do grande público e estrelado por um astro que estava preste a cair no esquecimento. Foi daí que veio o sucesso inesperado de Homem de Ferro (2008) estrelado por Robert Downey Jr., inaugurando o MCU (Marvel Cinematic Universe) e dando início o domínio dos filmes de super-heróis na indústria do cinema.

Mais do que ser um filme introdutório de um personagem, o primeiro longa da Marvel Studios tinha como função principal sedimentar o terreno para a realização de Os Vingadores (2012), o primeiro filme bem-sucedido de supergrupo de heróis, conseguindo quebrar recordes de bilheteria em menos de poucas semanas. A partir disso, a Marvel Studios conseguiu realizar filmes cada vez mais arriscados e cada vez mais bem-sucedidos em crítica e bilheterias, apostando tanto em filmes “de espaço” e engraçados, como Guardiões da Galáxia Vol.1 (2014) e Vol.2 (2017) e Thor – Ragnarok (2017), quanto em filmes mais sérios e complexos, como Capitão América 2 – O soldado invernal (2014) e o recente sucesso Pantera Negra (2018). Mas o que realmente veio à mente de Kevin Feige, presidente da Marvel Studios e produtor de todos os filmes realizado pelo estúdio, era a realização de um filme que fosse a reunião de todos os personagens e tramas apresentados ao longo de suas produções, que foram realizados nos últimos 10 anos e que levariam a esse momento que é o lançamento de Vingadores – Guerra Infinita, longa que gira em torno de maior ameaça já enfrentada pelos heróis desse universo.

 A história, que foi mantida em sigilo absoluto, é sobre o titã louco Thanos (Josh Brolin), um vilão cósmico que tem desejo de trazer equilíbrio ao universo através do poder das Joias do Infinito, gemas capazes de tornar seu portador o ser mais poderoso do universo, por isso ele sai a busca dessas joias, o que levará ao encontro com os Vingadores, que estão divididos por conta dos eventos de Capitão América: Guerra Civil (2016) , e por conta dos  Guardiões da Galáxia, de modo que precisam aceitar suas diferenças antes que seja tarde demais.

 O filme entrega o que promete, trata-se de um clássico filme da Marvel, mas a diferença agora é que a ameaça nunca esteve num nível de perigo tão brutal do que antes: a presença de Thanos é sentida em todos momentos do filme. O roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely consegue criar um contexto em que todos os heróis, divididos em núcleos, caminham para o grande confronto final.Assim, temos um multiplot dinâmico, que transita entre o espaço e a Terra e que tensiona a chegada do clímax.

Mais do que isso, os roteiristas apostaram também numa construção mais elaborada para o vilão, provando que Thanos não é um simples vilão cósmico que ameaça a paz no universo, ele é também um personagem complexo com motivações complexas. Thanos ganha vida pela atuação, acrescida de efeitos digitais, do ator Josh Bolin que consegue manter e até mesmo extrapolar o tom ameaçador que o personagem carregava nos filmes introdutórios.

A direção é assinada pelos irmãos Joe e Anthony Russo, dupla criativa que conquistou atenção aos produtores da Marvel por conta de  Capitão América 2 e Guerra Cívil e que mostram clara evolução de aprendizagem na direção. Se antes os irmãos apostavam numa ação mais realista, agora mostram dominar a computação gráfica e os efeitos especiais para criar cenas memoráveis e grandiosas como nenhum filme de herói já proporcionou ao cinema. Não se trata de cenas típicas somente de um único gênero, trata-se de um filme que consegue ter momentos cômicos agradáveis, sem gratuidade, mas que também evoca uma atmosfera sombria e dramática conforme caminha para o final. O final, aliás, ao mesmo tempo em que revela um gancho para um próximo filme, é um fechamento pesado e um pouco pessimista, no sentido de que se vê um fechamento de arco de Thanos e até mesmo de heróis cujos filme tendiam a certo escapismo e que agora, ao fim desses dez anos, encontram um destino pouco acalentador.

Mais do que um filme, Vingadores – Guerra Infinita é um marco para o gênero de filme de Super-Herói, em que a escala dramática e a proporção da ação é a mais alta já alcançada pela Marvel Studios em sua trajetória, mostrando que o estúdio obteve sucesso em criar um universo cinematográfico coeso e capaz de propor uma diversão prazerosa e intensa, conforme mostra acena pós-crédito. Essa é uma prova de que há grandes intenções para continuação e, seja lá o que for, terá o desafio de superar esse primeiro filme.

 

Ettore R. Migliorança é estudante de Cinema, com ênfase em roteiro e análise de filme, e já produziu dois curtas universitários