Onde vivem os monstros?

Um menino de 9 anos se veste de lobo e tenta chamar a atenção da mãe. Sobe na mesa de jantar e começa a gritar feito um louco, em seguida morde a mãe e sai correndo furioso pela rua até um bosque onde encontra um barco e começa uma longa viagem de autoconhecimento.

De repente o garoto se vê em uma terra habitada por monstros enormes e com comportamentos dos mais variados. Seria um excelente enredo para um filme infantil, porém, não é bem isso que percebemos ao assistir o filme “Onde vivem os monstros” (Where The Wild Things Are) do diretor Spike Jonze, lançado no Brasil no início do ano.

O filme é uma adaptação do livro homônimo de Maurice Sendak, que é considerado um clássico da literatura infantil nos Estados Unidos e que foi lançado em meados de 1963. A história gira em torno de Max, um problemático garoto de 9 anos que leva a vida entre momentos de alegria e insanidade, frutos de sua complexa personalidade. O livro e a versão cinematográfica apresentam situações diferenciadas visto que se trata de uma adaptação. O original (livro) tem a preocupação com a interpretação do público infantil, um pouco diferente do filme que exige do expectador uma para a compreensão leitura criteriosa e profunda da trama.

“Onde vivem os monstros” não é o tipo de filme bonitinho para criança assistir e dar gargalhadas, apesar da ligeira impressão de ser um filme infantil. A história é complexa e em alguns momentos bastante dramática. Os monstros representam a conflitante personalidade do protagonista Max e de alguns de seus familiares. Cada um dos fantásticos monstros que aparecem no filme tem um nome e um temperamento particular: há o carismático e ao mesmo tempo violento e instável Carol e o pouco compreendido Alexander, maiores representantes da personalidade do próprio Max. Há também a sempre baixo Astral, pessimista e irritante Judith, o sábio e criterioso Douglas, o tranquilo Ira e o distante Bernard. Além destes, a enigmática e amorosa KW, que divide as emoções entre os novos e antigos amigos é a personificação da mãe do Max e todo o seu sentimento materno.

Em uma terra onde é considerado rei, Max convive com diversas situações com as quais não sabe lidar no mundo real. Na terra onde vivem os monstros o protagonista tem a ilusão de que todos podem viver em perfeita harmonia, porém essa vaga impressão logo vem abaixo com o surgimento dos primeiros problemas iguais aos da vida real. Somente assim Max consegue entender a complexidade do ser humano, suas variações e o porquê de algumas atitudes dos seus familiares, até então incompreendidas por ele. Após essa descoberta, é chegada a hora de voltar para casa, mas o Max que retorna não é mais o mesmo que havia saído e isso fica evidente na última cena do filme, que apesar de não apresentar nenhum diálogo fala por si só.

A principal mensagem que o filme transmite está relacionada  a como as emoções falam pelo ser humano e a dificuldade que este sente na tentativa de controlá-las. Até mesmo em um universo mágico e imaginário as emoções são reais e muitas vezes incontroláveis. Mas e os monstros, o que elem tem a ver com tudo isso? Na verdade os monstros são parte do próprio Max, são reflexos da sua complexa personalidade que está em constante transformação, oscilando entre momentos de harmonia e felicidade e momentos de insanidade, agressividade e “monstruosidade”.  E todas essas contradições vivem exatamente dentro do Max e de todo ser humano, é parte inseparável do todo. Agora, a pergunta que fica é: você sabe onde seus vivem os monstros?

 

REFERÊNCIAS:

Onde Vivem os Monstros - Where The Wild Things Are
EUA, 2009 - 101
Drama / Fantasia

Direção:
Spike Jonze

Roteiro:
Spike Jonze, Dave Eggers, Maurice Sendak

Elenco:
Max Records, James Gandolfini, Catherine Keener, Paul Dano, Catherine O'Hara, Forest Whitaker, Michael Berry Jr., Chris Cooper, Lauren Ambrose


* Caio César Santos Gomes Graduado em História pela Universidade Tiradentes (2008) e Especialista em Ensino de História pela Faculdade São Luís de França (2010). É professor da Rede Estadual de Ensino do Estado de Sergipe e Professor/tutor da Universidade Federal de Sergipe – CESAD (Centro de Educação Superior à Distância) O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.