Destaques Mostra Infanto-Juvenil | 34º Festival Internacional de Curtas Kinoforum

Mostra Infanto-Juvenil - 34º Festival Internacional de Curtas Kinoforum

Por André Quental Sanchez

O cinema infanto-juvenil é um gênero recorrente no festival Kinoforum. 14 curtas completam a Mostra Infanto-juvenil deste ano que se espalha por diversos lugares como a Cinemateca e o CCSP.

 

Dividida em três programas, a mostra infanto-juvenil do Festival Internacional de Curtas de São Paulo passeia por diferentes culturas, discutindo temas relevantes para as crianças e adultos por meio de curtas e animações de diferentes gêneros e estilos. Ela se divide em 3 programas: Programa Infantil 1 denominado "Um Giro pelo mundo"; Programa Infantil 2, "Brincando em Casa, na Praia e na Lua" e por fim, o programa Juvenil: "Juvenil-Vozes da Juventude".

 

O programa Infantil 1 começa com o curta "O carrossel (2022) - competidor em diversos festivais pelo mundo e ganhador do Prêmio das Crianças no festival Ptit Clap que ocorreu este ano na França, dirigido por Augusto Schillaci. O curta retrata a história de um operador de carrossel que dedica sua vida às crianças, encontrando forças mesmo nos momentos em que tudo parece perdido. Por ser um curta imagético, a trilha sonora que o acompanha se torna uma personagem potente, ao retratar tanto a alegria das crianças quanto a criança interna do protagonista. Apesar de seguir uma estrutura narrativa básica já vista em outras produções que contrastam a infância com o progresso, o curta emociona e constrói um protagonista cativante por meio de acontecimentos simples e um sentimento universal de nostalgia. Ao final do projeto, é colocada uma homenagem a todos os operadores de carrossel, demonstrando um respeito a esta forma de arte que, apesar de reduzida, continua bem viva.

 

(O Carrossel, Augusto Schillaci)

Por sua vez, o curta A menina e o mar, ganhador do prêmio de melhor curta independente no "Best Indie Film Award" que ocorreu este ano em Londres, escrito e  dirigido por Gabriel Mellin, conta a história de duas crianças com diferentes visões de mundo: um menino que não gosta do mar e uma menina que o ama. A produção apresenta uma cinematografia com um excelente uso da iluminação natural e do mar como um todo, tornando-o um personagem; uma boa trilha; um diálogo preciso entre os nossos dois personagens, não cansando em nenhum momento, e é composto por diversos simbolismos. Estes vão desde a relação que podemos fazer entre a menina e Iemanjá e/ou Iara, até a sabedoria que ela apresenta por conta de sua deficiência visual, algo que remete aos épicos gregos em que os cegos eram os que tinham a capacidade de enxergar a verdade. O curta retrata com leveza uma história de amadurecimento e nos faz refletir sobre a nossa própria visão da vida.

 

O programa infantil 2 se inicia no dia 26/08 e começa com o curta Super Heróis, dirigido por Rafael de Andrade e ganhador de diversos prêmios como “Best International Short Film” no festival internacional de Chitram que ocorreu este ano na Índia. O projeto retrata crianças que criam um super-herói para auxiliá-las em seus problemas. O curta faz uso da tão presente temática de heróis, apresentando uma estética que remete aos quadrinhos tradicionais e destaca questões presentes na vida de diversas crianças da classe média brasileira, expandindo esta reflexão para a nossa noção de comunidade e dando crédito aos heróis invisíveis que estão presentes todo dia à nossa volta.

 

Seguindo os filmes da mostra, temos o curta Os muitos mundos de Piero Maria, da diretora, roteirista e produtora Helena Guerra, que retrata o vício em tecnologia por meio da visão do gato Piero Maria. Unindo animação e live action, o projeto também retrata o progresso como algo benéfico e ao mesmo tempo complicador das relações humanas e do convívio social, um tema recorrente dos curtas desta mostra. Acompanhando a visão do animal, somos apresentados a uma perspectiva pouco habitual da pandemia de 2020 e até mesmo sobre a nossa relação com a tecnologia, apesar do ritmo atropelado ao final da produção, ela faz uso da comédia, em alguns momentos até mesmo exagerada, e de uma ludicidade que já se tornou uma marca de filmes da mostra infanto-juvenil, para retratar uma história que se torna memorável por conta do modo como foi contada.

 

O programa Juvenil se inicia no dia 25/08 e começa com o curta Coração de Concreto dirigido e idealizado por Enrika Panero. O projeto retrata a jornada de amadurecimento de Kenza, uma menina que se inscreve em um curso de Rap, se desafiando dentro de um ambiente predominantemente masculino. Com a ajuda da professora, exceção que se torna uma peça essencial em seu crescimento, Kenza deve refletir sobre os seus próprios desejos em um mundo que teima em aceitá-la. 

 

(O Coração de Concreto, Enrika Panero)

O roteiro do curta surpreende em momentos como quando Kenza beija a professora, algo que estava implícito, porém, parecia inviável de acontecer, e a sua resolução pacífica para ambas as partes. Além disso, por ser um curta com ênfase na música, o design de som da produção merece destaque.

 

Outro destaque dentro do programa Juvenil é o curta Ouçam-me: Um Manifesto, dirigido por João Pedro Muniz e Elisa Cecci e que já competiu em festivais pelo país como o Festival de Taguá, em Brasília. Fazendo uso de uma estética documental, o curta apresenta a visão de jovens de escola pública sobre o processo educacional no Brasil durante o ano de 2022. Apesar da falta dos nomes e idade dos entrevistados, que poderiam ter sido incluídos para trazer uma maior identificação, o curta é acompanhado por um design que destaca tópicos importantes do projeto como a desigualdade racial, os problemas estruturais de colégios públicos e o conflito geracional da juventude com os pais e professores.

 

Ao final, percebemos que a Mostra Infanto-Juvenil, por meio de diferentes estéticas e temas, apresenta um grande zelo pela criança e pelo jovem e retrata de maneira leve tópicos que podem ser considerados densos. Discussões como a descoberta da sexualidade, a importância da nossa criança interior, o perigo da tecnologia, as problemáticas do avanço exagerado do progresso, são presentes entre outros temas que auxiliam na introdução da juventude perante a vida que começa para eles. 

 

A mostra infanto-juvenil se inicia no dia 25/08 e vai até o dia 03/09, tendo classificação indicativa de maiores de 6 anos para a programação infantil e 10 anos para a juvenil. A mostra será acompanhada por atividades recreativas para todas as idades e terá suas sessões na Cinemateca, no MIS e no CCSP, além de diversos cineclubes espalhados por SP.

 

 

Biografia:

André Quental Sanchez é graduado em cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde roteirizou e dirigiu um curta-metragem. Tem muito interesse na área do som, crítica e roteiro, tendo interesse e gosto pelo campo cinematográfico desde que se enxerga como gente. Pretende seguir vida acadêmica no futuro.

 

 

A cobertura do 34ª Festival Internacional de Curtas de São Paulo - Curta Kinoforum faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.

Agradecemos à Atti Comunicação e Ideias e a toda a equipe da Associação Cultural Kinoforum por todo o apoio na cobertura do evento. 

Equipe Jovens Críticos Mnemocine: 

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção e Edição: Bruno Dias

Edição: Davi Krasilchik e Luca Scupino

Edição Adjunta, Apoio de produção e Transcrição das entrevistas: Rayane Lima