Bye Bye Amazônia | 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes

(Divulgação)

Bye Bye Amazônia | 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes

Por Davi Krasilchik 

 

Chega a ser inexplicável testemunhar uma obra como Bye Bye Amazônia (2023). Em uma apresentação que antecedeu à exibição, na Mostra de Tiradentes, o diretor Neville de Almeida falou sobre o distanciamento conceitual de seu filme em relação a outras obras sobre a destruição da Floresta Amazônica. De fato, talvez a realização seja única na forma como propõe um acabamento que jamais deveria ter sido concebido.

 

Na busca por uma possível continuidade de seu projeto estético  — reconhecido por  filmes que recorrem ao escárnio, ao devaneio e à impulsividade dos personagens —, talvez seja esperado que o espectador se apegue a essa noção em um primeiro momento. A montagem vulgar, que utiliza de imagens de arquivo, poderia remeter a um manifesto reverso: revelar, pela própria precariedade da obra, como o descaso por parte da sociedade ainda permanece diante das discussões ambientais.

 

Conforme se misturam os documentos históricos com as performances propostas pela direção, essa expectativa fica, entretanto, cada vez mais distante. Ainda que o formato do filme justifique o uso de uma câmera mais leve e de fácil manuseio, a aproximação que Neville propõe dos atores em relação à lente constrói enquadramentos constrangedores. Nada ali se traduz em uma “retratação de dores impressas pela pele”, ou em uma “exploração sensorial de sentimentos de uma história cultural”, ao contrário do que o discurso do diretor procura afirmar.

 

Restam, então, planos que invadem seus atores e que dão contornos a performances didáticas, que em muito minimizam a problemática ambiental posta em discussão. A elaboração de três linhas narrativas — os arquivos, a atuação do indígena Mac Suara Kadiwell, e os manifestos do ator Thiago Justino — recicla uma tese superficial que em nada complexifica a diversidade das tribos indígenas, nem a maneira como a destruição do ecossistema os afeta, e muito menos vai além de frases de efeito óbvias e da destilação dos dados mais superficiais concedidos pelos censos de pesquisa.

 

A brutalidade das performances, mais uma vez, poderia até representar um retorno formal à marginalidade do cinema de Neville, em sua potência para  agredir o espectador, falar diretamente com ele e garantir o desconforto. Mas a associação desses blocos narrativos com o peso do material de pesquisa filiam o longa a um campo de seriedade, que reduz todas as demais linhas narrativas a uma espécie de zombaria.

 

Restam, assim, as boas intenções de um diretor prestigiado que acabam por minimizar o assunto tratado e inibir qualquer discussão com o público. A insistência em um mesmo conceito durante toda a duração do filme — felizmente breve —, torna a obra incômoda pelos motivos errados, não pela natureza da temática abordada.

 

 

Biografia:

Davi Galantier Krasilchik é estudante de Cinema e Jornalismo na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde já roteirizou e dirigiu dois curtas-metragens. Ele também já fotografou dois projetos curriculares, além de produções por fora, e escreve críticas e reportagens para meios como a revista universitária Vertovina e o site Nosso Cinema. A sua paixão pela Sétima Arte se manifesta desde a infância, e atualmente ele trabalha na Filmoteca da TV Cultura, onde ajuda a preservar esse material pelo qual tem tanta paixão.

 

 

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A cobertura do 27º Mostra de Cinema de Tiradentes faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.

Agradecemos a toda a equipe Universo produção e a ATTI Comunicação e Ideias por todo o apoio na cobertura do evento.

Equipe Jovens Críticos Mnemocine: 

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção e Edição: Bruno Dias

Edição: Davi Krasilchik, Luca Scupino, Fernando Oikawa e Gabriela Saragosa

Edição Adjunta e Assistente de Produção: Davi Krasilchik e Rayane Lima