Dissertação de Mestrado - Filipe Salles - 24/06/2002


4.2. A natureza do som

O som também se caracteriza por sua natureza vibratória, tal qual a luz, e também apresenta semelhança do ponto de vista da freqüência. Utilizando a mesma medida (Hertz), temos que a freqüência em Hertz determina a altura do som, ou seja, a nota, e a amplitude da onda sua intensidade. Assim como na luz, o som também gera harmônicos, mas com uma diferença marcante: por causa da freqüência muito mais alta da luz, não conseguimos perceber seus harmônicos e sim apenas sua resultante. No som, ao contrário, com pouco treino somos capazes de ouvir harmônicos, bem como a sobreposição deles, que, segundo Helmholtz, (e depois analisado em maior profundidade por Schaeffer) desempenha papel fundamental na composição do timbre, a origem da fonte sonora.

Assim, temos que o som é particularmente definido a partir de 4 características fundamentais: Altura, Intensidade, a Duração e o Timbre, resultante destes 3 elementos anteriores. Em se tratando das diferenças formais entre a luz e o som, temos que a intensidade é tratada pelo som de maneira bastante diversa: enquanto que para a luz intensidades diferentes de uma mesma freqüência podem ser consideradas cores diferentes, em música não, a nota, até seu limite auditivo, é reconhecida sem problemas como a mesma, qualquer que seja sua dinâmica.
Já no âmbito da altura, temos que as freqüências sonoras são reconhecíveis de uma maneira mais precisa: enquanto a altura de uma note pode ser detectada com precisão de comas pelo ouvido, a freqüência da luz (cor) não pode ser precisada senão por aparelhagem complexa de laboratório. Isso se dá por razões físicas, a freqüência eletromagnética da luz é muito menor e mais sutil que a mecânica do som. O mesmo se aplica à sobreposição de cores e de sons. Na onde mecânica sonora, é possível reconhecer a simultaneidade de freqüências sobrepostas e, com treino, determinar com precisão as notas que compõe determinado acorde. No caso da luz, não é possível determinar com precisão as cores em suas intensidades e freqüências precisas que compõe uma resultante cromática, primeiro porque diversas combinações de cores podem resultar numa mesma cor predominante, e depois porque não vemos a sobreposição delas, e sim apenas o resultado final. Da mesma forma, a luz não tem 'timbre', apesar de ter 'qualidade', se pudermos aproximar ao máximo as semelhanças. Essa qualidade seria referente às características próprias de cada fonte de luz. Não obstante, esse 'timbre' da luz é facilmente reproduzido por variados tipos de fontes, diferentemente da música, que possui uma qualidade específica de difícil imitação nos instrumentos. O cinema se vale desta propriedade confeccionando luzes artificiais com qualidade semelhante à luz solar, imitando diversas instâncias de luz natural em estúdio.

O som, assim como a luz, também nos chega ao cérebro através de um canal transmissor, o ouvido, que nada mais faz além de estabelecer uma conexão entre a vibração externa e o cérebro. Qualquer estímulo vibratório que se propague em meio material, pode ser captado dentro de seu limite de percepção e será transmitido ao cérebro, que então o interpretará. Temos então que tanto o fenômeno luminoso quanto o fenômeno sonoro são reconhecíveis segundo uma interpretação cerebral.
Assim, sabemos que a imagem é produto de um estímulo luminoso (freqüência eletromagnética), e o som produto de vibrações mecânicas que se propagam num meio material, sendo, portanto, muito diferentes em essência. E, apesar disso, muito semelhantes quanto à manifestação. A natureza de ambas, quando colocadas em comparação, está em constante instabilidade, visto que, dependendo do ângulo e ponto-de-vista de análise, elas podem estar mais distantes ou mais próximas em termos de associação de paradigmas. É preciso, portanto, estabelecer critérios para avaliar as concordâncias entre as comparações efetuadas.



copyright©2002 Filipe Salles

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