Dissertação de Mestrado - Filipe Salles - 24/06/2002

IMAGENS MUSICAIS ou MÚSICA VISUAL
Um estudo sobre as afinidades entre o som e a imagem, baseado no filme Fantasia (1940) de Walt Disney

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Comunicação e Semiótica - área de concentração: Artes - sob orientação do Prof. Dr. José Luiz Martinez



Agradecimentos: Especialmente ao Renzo Torrecuso pelas traduções, ao Eliseu Lopes Filho pela captura das imagens, ao José Luiz (orientador), minha irmã Carolina e aos meus Amigos todos.

Dedicatória: Aos meus Pais, sempre presentes.



Resumo O objetivo deste trabalho é analisar a combinação entre as músicas e as imagens no filme Fantasia (1940) de Walt Disney, para então procurar estabelecer a razão unificadora que permite tão clara, tão livre e tão harmoniosa combinação. É certo que Disney se apropriou de algumas leituras possíveis, mas muito distantes das concepções originais dadas pelos compositores, e mesmo assim obteve um resultado fascinante. A partir de uma leitura clássica, que se utiliza dos conceitos pitagóricos e platônicos de caráter, unidade e harmonia, analiso a seqüência da ´Sinfonia Pastoral´ de Beethoven, e então, através do confronto entre termos específicos da linguagem musical e visual, é fornecida uma possível interpretação para a relação tão íntima que há entre som e imagem.

Abstract The objective of this work is to analyse the combination between the music and the images from Walt Disney's Fantasia (1940). Once established that, study and define the unfying reason to such clear, free and harmonius combination of sound and image. Walt Disney had indeed taken hold of some possible interpretations, but ones very far from the original conceptions given by the composers, and even then he achieved an outstanding result. From a classical view, which makes use of pithagorical and platonic concepts about character, unity and harmony, the sequence of Beethoven's Pastoral Symphony is analysed and then, through a confrontation of specific terms from the musical and visual linguages an hypothesis is given about the close relation between sound and image.



1. INTRODUÇÃO

Fantasia (1940) de Walt Disney, não é apenas um filme de animação de irresistível efeito sobre seu público. Muito mais do que simplesmente utilizar recursos próprios da linguagem do cinema e da animação cinematográfica para obter um deliciamento estético, ele também exerce um certo fascínio irrepreensível que poucos outros desenhos animados da mesma categoria conseguem: a estranha sensação de, após assisti-lo, termos visto música e ouvido imagens.

O que há por trás de tão inusitada sensação, uma sinestesia própria, que sintetiza um antigo sonho humano de mimetizar a natureza de maneira precisa e bela? Afunilando estes sentimentos, deparamo-nos com o próprio ideal sinestésico (nota #1), a fusão de sentidos que nos fornece uma outra dimensão sensível na percepção tridimensional. E mais, é uma questão muito antiga, interessante por si mesma, e que muitos estudiosos, teóricos das artes, filosofia e cientistas, tentaram, de várias maneiras, abordar. Qual seria a íntima relação que há entre a música e a imagem? Fantasia entra em cena como um grande paradigma desta relação, um desafio à estrutura de pensamento cartesiana, ou antes kantiana, de agrupar categorias isoladas. Em Fantasia música e imagem formam um todo uno e coeso, uma entidade tão única que realmente saímos de sua projeção pensando como fizeram para obter tão harmônica combinação entre a música e as imagens, levando-se em conta que, em muitas passagens do filme, a história narrada pelas imagens é muito diversa da imaginada originalmente pelo compositor. E isso quando não se trata de música que não conta nenhuma história!

Esta é a questão central deste estudo: o que há em Fantasia que permite este relacionamento tão rico entre o som e a imagem? Seria uma relação, a exemplo da biologia, simbiótica? Ou um parasitaria o outro, limitando mutuamente sua interpretação? Ou, ao contrário, essa simbiose abriria novos horizontes para ambas as artes, libertando-as de paradigmas estáticos?

De qualquer maneira, toda a problemática se resume em adentrar um universo tido como híbrido, e verificar se existe uma terceira entidade, independente, onde as instâncias sonoras e imagéticas formariam um só corpus, que se chamaria música visual ou imagem musical (existe diferença entre os termos?)

A idéia pode parecer simples à primeira vista, mas numa análise minuciosa - e só pelas questões aqui lançadas até agora - ela se mostra bastante complexa, pois combinações entre música e imagem se apresentam de maneiras muito variadas e subjetivas. Faz-se necessário, portanto, uma análise minuciosa de um objeto que envolva tais combinações, aqui representado de maneira muito significativa pelo filme Fantasia de Walt Disney.

Antes, porém, é conveniente dar uma breve passada pelos autores que escreveram sobre o tema, estudando especificamente a correspondência entre o som e a imagem.

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