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Nada Dura Para Sempre (2022, Jason Kohn) - 12ª Mostra Ecofalante

Nada Dura Para Sempre (2022, Jason Kohn) - 12ª Mostra Ecofalante

Por Davi Krasilchik

Questionando a validade dos valores materiais, o diretor Jason Kohn escolhe dissecar o mercado de diamantes norte-amerciano. Conforme o seu olhar bem humorado se repete ao longo do projeto, o filme revela ser tão superficial quanto a matéria-prima que se propõe a desconstruir.

 

 

No nosso sistema produtivo, a natureza está sempre em transformação. Da fabricação de um produto até o seu descarte, são muitas as mudanças por ele atravessadas, estejam elas em um campo metafórico ou literal. A maneira como enxergamos certos objetos é o que lhes confere valor e significado, por mais passageiros que possam acabar sendo. Buscando decifrar os bastidores do mercado de diamantes nos EUA, essas são algumas das questões feitas pelo filme “Nada Dura Para Sempre”.

 

Partindo do retrato de uma extração de minérios em uma antiga mina, o documentário não tarda em discutir a superficialidade do consumo ali questionado. Ao propor que os diamantes não passam de imagens com valor fabricado, o diretor Jason Kohn cria uma margem para ironizar os materiais fonte que será bem utilizada pela montagem.

 

Seja pela exposição de falas cômicas de seus entrevistados - caso do empresário Martin Rapaport, que defende a venda agressiva de anéis de noivado por se considerar um defensor das “relações românticas” - ou pelo uso de comerciais manipulativos, o filme suspende o status das joias e de seus administradores a todo momento.

 

Para isso, Kohn se beneficia de uma montagem bastante clara, que se desvencilha de possíveis termos técnicos, centrada no choque entre os diamantes naturais e aqueles produzidos sinteticamente. Representando a própria confusão das imagens em geral, presas no meio da representação e da verdade, esse acaba sendo o conflito central da produção, que desperta uma revolta dos produtores que têm as suas vendas afetadas pelas cópias artificiais.

 

Apesar da boa ironia inserida na montagem, não demora para que o recurso se desgaste e a discussão, aos poucos, passe a despertar menos interesse. É como se o documentário tivesse uma consciência muito clara de seu tom cômico, usando-o à exaustão e fadado a repetir o mesmo recurso. Por mais atrativa que seja a desconstrução pelo humor de grandes líderes do comércio americano - e que aqui também inclui Stephen Lussier, diretor executivo da inglesa De Beers, grande conglomerado voltado ao material em questão -, o projeto logo esgota o seu arcabouço de denúncias.

 

Isso não só revela a fragilidade do elenco escalado para as entrevistas - as quais pouco incluem perspectivas mais mundanas e externas ao círculo analisado -, como também aponta para o próprio esgotamento da temática em discussão. Ainda que parta de um questionamento interessante sobre a relação entre aparência e realidade, parece que o projeto não compreende a total universalidade de sua discussão, restrito a uma temática específica e, talvez, pouco relevante.

 

Seria injusto ignorar, por outro lado, uma presença que transforma parcialmente essa tonalidade. Chega a ser comovente o protagonismo que o gemólogo Dusan Seismic recebe, para além da sua habilidade de diferenciar pedras verdadeiras das sintéticas. Ele se vê forçado a combater scanners internacionalmente distribuídos e que, mesmo sem ser efetivos, substituem sua função. Por conta disso, talvez seja ele o único personagem forçado a lidar com quaisquer dificuldades durante o processo do filme. Isso humaniza alguma das presenças e a relevância social do filme, atingindo uma nova forma de se retratar a frieza e brutalidade do sistema capitalista.

 

Ainda que munido de boas ideias e intenções, Nada Dura Para Sempre esgota o seu potencial na casa dos vinte minutos de duração. A obsessão pelas piadas com comerciais antigos e frases de efeito dificulta sua valorização. Mesmo que seja gratificante rir de figuras que detêm poder e se consideram “grandes revolucionárias”, o filme investe em uma repetição didática que extingue qualquer possibilidade de diálogo com o seu público. Nada mais é do que um projeto juvenil, que se considera inovador meramente por assumir uma posição crítica ao capitalismo de consumo. Mal sabe seu autor que a força do documentário leva o seu título bastante ao pé da letra.

 

 

 

Biografia:

Davi Galantier Krasilchik é estudante de Cinema e Jornalismo na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde já roteirizou e dirigiu dois curtas-metragens. Ele também já fotografou dois projetos curriculares, além de produções por fora, e escreve críticas e reportagens para meios como a revista universitária Vertovina e o site Nosso Cinema. A sua paixão pela Sétima Arte se manifesta desde a infância, e atualmente ele trabalha na Filmoteca da TV Cultura, onde ajuda a preservar esse material pelo qual tem tanta paixão.

 

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A cobertura da 12ª Mostra Ecofalante de Cinema faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.

Agradecemos à Atti Comunicação e Ideias e Francisco Cesar Filho por todo o apoio na cobertura do evento. 

Equipe Jovens Críticos Mnemocine: 

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção: Bruno Dias

Edição: Luca Scupino

Edição Adjunta e Organização: Rayane Lima