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Sessão especial Godard + Zé Celso 34º Festival Internacional de Curtas Kinoforum

 

Sessão especial Godard + Zé Celso 34º Festival Internacional de Curtas Kinoforum

Por Bruno Dias

 

O Festival Internacional de Curtas de São Paulo - Kinoforum faz uma exibição especial para  dois grandes artistas falecidos no biênio 2022-2023: o cineasta Jean-Luc Godard, com seu curta-metragem póstumo Trailer do filme que nunca existirá: ‘guerras de mentira’ (2023); e o dramaturgo José Celso Martinez Correa, cujo curta O Parto (1975) será exibido.

 

A carreira de JLG é permeada pela inquietude. O cineasta se reinventou diversas vezes ao longo dela, desde o seu envolvimento na Nouvelle Vague - movimento onde, junto de seus contemporâneos consolidou o cinema moderno francês -, passando por sua guinada à esquerda no final da década de 1960, os experimentos com vídeo nas décadas de 1970 e 80, até seus filmes-ensaio reflexivos do século 21.

 

Trailer do Filme que Nunca Existirá: 'Guerras de Mentira' - Jean-Luc Godard

Nessa sessão especial, é exibido pela primeira vez no Brasil o epílogo de Godard, que estreou no 76º Festival de Cannes. Trailer do Filme que Nunca Existirá: 'Guerras de Mentira (2023) é o prenúncio de um novo filme, interrompido pela efemeridade da vida. No curta, o espectador é jogado para dentro do processo de criação de um novo filme de JLG, que seria uma adaptação do livro “Faux passeports” (1937), de Charles Plisnier. Por meio da colagem de imagens, textos e sons, Godard nos convida para adentrar em seu raciocínio provocativo, permeado pela própria incompletude de uma suposta obra por vir.

 

Zé Celso também se caracteriza como um artista de inquietude e reinvenção. Seus feitos nas artes cênicas são os mais difundidos. Como diretor do Teatro Oficina, trouxe a antropofagia de Oswald de Andrade para os palcos em O Rei da Vela, os embalos da MPB com a peça Roda Viva, e a pulsação social de Canudos em sua adaptação teatral do clássico da literatura Os Sertões.

 

O Parto - Zé Celso e Celso Luccas

 

Essa sessão apresenta outra face da obra de Zé Celso: a de cineasta. Durante o exílio do Oficina em Portugal, foi filmado o curta O Parto (1975). O filme, co-dirigido por Celso Luccas e realizado pelo Oficina Samba – nome que o grupo recebeu em sua passagem pela Europa - é um retrato colhido logo após a Revolução dos Cravos (que depôs o Estado fascista que vigia em Portugal desde 1933), no qual os realizadores mostram o expurgo dos tiranos e o nascimento de uma nova Portugal. A energia revolucionária de Zé entra em consonância com o momento político de Portugal e seus ecos nas até então colônias portuguesas.

Tanto Zé quanto Godard foram artistas que se caracterizaram pela reinvenção, sempre na vanguarda em seus campos de atuação. Suas trajetórias, mesmo que diferentes, têm como ponto de encontro esta constante inquietação.

 

Isso fica claro com o recorte estabelecido na exibição. Enquanto o curta de JLG serve como ponto final, o de Zé Celso é um novo início para o grupo, fora da repressão da ditadura militar brasileira (1964-1985). Mas nem por isso Godard nos deixa sem trazer uma nova inflexão, pois mesmo sendo fato que o filme pensado jamais existirá, vê-se nesse “trailer” o que seria o novo Godard.

 

A vida não é eterna, mas a criação o é. Zé e Godard se vão, deixando imensuráveis contribuições para o mundo. Os dois curtas mostram uma pequena parcela desses artistas que inspiraram, inspiram e inspirarão tantos outros.

 

Evoé Zé, au revoir Godard.

 

Biografia: Bruno Dias é produtor, cineasta, pesquisador e educador graduado em cinema na FAAP. Trabalha como assistente executivo da Cinematográfica Superfilmes. Atua também no site de formação e pesquisa Mnemocine onde é editor adjunto e produtor. É sócio-fundador da produtora Bitola Cultural. Apaixonado por cinema, teatro e todas as formas de representações culturais.

 

 

A cobertura do 34ª Festival Internacional de Curtas de São Paulo - Curta Kinoforum faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.

Agradecemos à Atti Comunicação e Ideias e a toda a equipe da Associação Cultural Kinoforum por todo o apoio na cobertura do evento. 

 

Equipe Jovens Críticos Mnemocine: 

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção e Edição: Bruno Dias

Edição: Davi Krasilchik e Luca Scupino

Edição Adjunta, Apoio de produção e Transcrição das entrevistas: Rayane Lima