Pobres Criaturas (Yorgos Lanthimos) - 25º Festival do Rio 2023
Por: André Quental Sanchez
Quando nascemos, estamos puros, sem receios ou temores. Porém, ao crescermos, aprendemos regras do que podemos ou não fazer, seja pela influência familiar ou social. É assim, reprimimos certas vontades e sentimentos naturais. Mas e se uma mulher de 30 anos fosse ressuscitada no melhor estilo Frankenstein e não tivesse consciência dessas regras, como ela enxergaria o mundo - e, principalmente, como outras pessoas iriam enxergá-la?
Vencedor do Leão de Ouro em Veneza, Pobres Criaturas conta a história de Bella Baxter (interpretada por Emma Stone em provavelmente aquele que é o melhor papel de sua carreira), uma mulher trazida novamente à vida pelo cientista Godwin Baxter. Sem apresentar consciência de seu passado anterior por conta do processo, Bella é uma mulher livre para aprender tudo do zero e acaba criando uma visão de bondade e curiosidade perante o mundo.
Baseado no livro homônimo de Alastair Gray, a história se passa em um universo bizarro e estranho que o diretor Yorgos Lanthimos está acostumado em trabalhar, estranhamento que é gerado pelo uso exagerado de lentes olho de peixe, que distorcem a proporção entre os personagens e o cenário, tornando-os sempre pequenos. O filme inicia com uma estética em preto e branco e uma coloração vibrante toma conta na medida que Bella ganha consciência do mundo. Somado a toda essa estética, o roteiro cheio de contrastes se torna a cereja do bolo da produção, principalmente na construção de sua protagonista e em reflexões sobre o modelo capitalista, a liberdade sexual e papéis de gênero.
Bella pode ser vista como uma mulher livre, confiante e com um forte desejo sexual, mostrado sempre no filme como algo belo, curioso e natural. Porém, em um mundo dominado por homens, muitos tentam conter suas vontades e domá-la, o que a coloca em conflito com seu pai, apelidado simbolicamente de “God”; com Max McCandless, um jovem e inocente estudante de medicina; e Duncan Wedderburn, um advogado libertino que é surpreendido, domado e destruído pelos vícios vivenciados com a protagonista.
Na elaboração do roteiro, Lanthimos apresentou três filmes de inspiração para o roteirista Tony Mcnamara: E La Nave Va (1983) de Federico Fellini, A Bela da Tarde (1967) de Luis Buñuel e O Jovem Frankenstein (1974) de Mel Brooks - filmes que estão fortemente presentes em Pobres Criaturas, seja pela inspiração estética ou pela presença de momentos cômicos que levam o público do riso aos aplausos, com reflexões que permanecem mesmo após o fim do filme.
Pobres Criaturas, dirigido por Yorgos Lanthimos e estrelando Emma Stone, Willem Dafoe e Mark Ruffalo, foi visto no dia 07 de Outubro de 2023 em uma sessão lotada do Festival do Rio. Após passar em Veneza e Toronto, esta foi a terceira sessão do filme no mundo inteiro. Será lançado oficialmente em Fevereiro de 2024.
Biografia: André Quental Sanchez é graduado em cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), onde roteirizou e dirigiu um curta-metragem. Tem muito interesse na área do som, crítica e roteiro, tendo interesse e gosto pelo campo cinematográfico desde que se enxerga como gente. Pretende seguir vida acadêmica no futuro.
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A cobertura do 25º Festival Internacional do Rio faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.
Equipe Jovens Críticos Mnemocine:
Coordenação e Idealização: Flávio Brito
Produção e Edição: Bruno Dias
Edição: Davi Krasilchik e Luca Scupino
Edição Adjunta e Assistente de Produção: Rayane Lima
