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Rodas e Eixos (Jumpei Matsumoto) | 47° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Rodas e Eixos (Jumpei Matsumoto) -  47° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Por Pasquale Vincenzo Galatro 

 

Um abismo pode ter muitos rostos e assumir diversas formas. Afinal, longe de ser um lugar, nada mais é que um estado. Para muitos, o abismo é a falha de uma narrativa, de um projeto ou de um sonho, se tornando apenas a parte opaca e oculta de uma existência sem lembranças e sem futuro.

Essa é a premissa do diretor Jumpei Matsumoto com Rodas e Eixos. Acompanhamos a vida de Manami, uma jovem de família rica e tradicional japonesa. Ao longo dos 120 minutos do filme, ela e seu colega, Jun, gay e oriundo da mesma classe social, entram em uma espiral de angústia, dor e sofrimento existencial quando conhecem Seiya, um garoto de programa. A partir deste momento, o trio inicia uma intensa descoberta sexual, bem como um questionamento sobre os seus papéis sociais. 

 

 

A solidão passa a ser o compasso das vidas desses personagens, e o gasto de dinheiro incessante, na tentativa de preencher este vazio, se torna a bússola da jornada de Manami. Ela e Jun se veem isolados em Tóquio, distantes de suas famílias, e, por conta de suas riquezas, se encontram completamente alheios aos problemas do mundo comum. Sequências de cenas com poucos cortes e diálogos lentos podem ser vistas como tentativas de revelar o conflito interno de cada um deles. 

 

Desse  modo, pouco a pouco a narrativa revela as suas necessidades por contato humano, e os personagens progressivamente inovam nas formas como se autodestroem, enquanto pessoas. Em diversos momentos do filme, vemos Manami e Jun circulando pelos bares e restaurantes de Tóquio, tentando falar com outras pessoas, até o momento em que encontram Seiya como uma forma de suprir esta necessidade. 

 

E tudo isso é contrastado de duas formas. Nos momentos em que os protagonistas estão buscando um contato humano e os planos são abertos, há grande movimentação na mise-en-scène. Eles estão sempre andando, conversando e vendo pessoas. Mas, quando Manami e Jun passam a ficar introspectivos, questionando suas existências, vemos planos fechados e pouquíssimos movimentos em cena. 

 

Sexo e dinheiro se tornam um modo de aplacar a existência de Manami e Jun. Jumpei Matsumoto adota assim o niilismo de uma sociedade jovem, rica e cosmopolita em um Japão do século XXI. A muitos olhos, “Rodas e Eixos” é uma elegia ao vazio, a ausência, a uma sobrevida dentro de um presente pouco consciente.

 

 

Biografia:

Pasquale Vincenzo Galatro é formado em cinema pela FAAP, onde dirigiu e roteirizou curtas-metragens que ocuparam festivais como Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, UFA Youth Film Festival, Prêmio ABC, entre outros. Hoje atua como roteirista e redator publicitário.

 

A cobertura do 47º Mostra Internacional de Cinema São Paulo faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.

Agradecemos a toda a equipe da Assessoria da Mostra por todo o apoio na cobertura do evento.

Equipe Jovens Críticos Mnemocine: 

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção e Edição: Bruno Dias

Edição: Davi Krasilchik e Luca Scupino

Edição Adjunta e Assistente de Produção: Rayane Lima