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Mambar Pierrette (Rosine Mbakam) | 47° Mostra Internacional de Cinema em São Paulo

Mambar Pierrette (Rosine Mbakam) - 47° Mostra Internacional de Cinema em São Paulo

Por Pasquale Vincenzo Galatro

 

Quando fazemos uma retrospectiva do cinema, é possível observar  diversas vertentes do realismo, como o Neorrealismo Italiano e suas derivações seguintes que passaram por diversos lugares do mundo, chegando ao Brasil com o Cinema Novo e indo até a Índia, pelas lentes de Satyajit Ray. A grande peculiaridade do “realismo” é a sua forma de se reinventar; mas qual é o lugar da vertente realista nos últimos dez anos? São muitos os filmes que passam por festivais contando a mesma história, do mesmo modo, de um personagem enfrentando as dificuldades que sua realidade social impõe. A questão não é a validez da realização deste tipo de filme, mas por que obras da última década ainda não passaram por uma reinvenção tal qual um dia foi a que levou aos desdobramentos dos filmes de cunho realista?

 

Mambar Pierrette é a história de uma costureira camaronesa pobre que é roubada, tem sua casa devastada por uma enchente e ainda não possui ajuda de ninguém. Como é próprio dos filmes realistas, há traços viscerais de documentário (mesmo se tratando de uma ficção), atuações icônicas de não atores e planos abertos e estilizados que revelam a pobreza do bairro de Camarões. Mas onde está a forma de inovar esta narrativa? 

 

Desde o início, acompanhamos Mambar Pierrette em seu ateliê de costura, trabalhando para sustentar sua mãe e seus filhos. Pouco a pouco, entendemos que ela carrega uma vida inteira sozinha, uma vez que seu marido, com quem não é oficialmente casada, não ajuda e muito menos participa de sua vida ou de seus filhos. Devido ao relacionamento de Mambar não ser oficial, seus familiares imploram para que ela não denuncie seu marido para as autoridades, uma vez que isso seria uma “vergonha”, por conta de um costume arcaico no qual reclamações conjugais são válidas apenas se forem oficializadas. Contrariando seus familiares, Mambar insiste em falar com as autoridades, mas não consegue nenhum êxito com isso. Deste modo, ela precisa encontrar forças em si mesma para subverter sua realidade, destroçada pelo assalto que levou seu dinheiro guardado e pela enchente que estragou sua casa e o novo caderno escolar de seu filho, símbolo de uma vida diferente que Mambar poderia dar a ele. 

 

Muitos podem se compadecer, e até mesmo se enfurecer, com a situação da personagem durante a sua luta por um mínimo de dignidade dentro de uma realidade dura e cruel. Esta, acima de tudo, e tal como mostra o desenrolar da trama, não perdoa a ninguém.

 

 

 

O que está em questão é a forma, não o conteúdo. São diversas as narrativas que mostram a mesma história de um personagem lutando contra a sua realidade social. Sim, filmes como Mambar Pierrette irão continuar existindo e devem continuar a existir, como qualquer outra obra audiovisual de caráter social. Mas por que não se utilizar de outros meios para contar a mesma história? O gênero não está sendo desgastado com os mesmos planos abertos, táticas documentais e linha narrativa? Desde o Neorrealismo Italiano, o cinema provou que há diversas realidades que podem ser contadas das mais diversas formas, sem a necessidade seguir uma fórmula. É possível ser real ao mesmo passo em que se reiventa a forma de contar uma realidade. 

 

Biografia:

Pasquale Vincenzo Galatro é formado em cinema pela FAAP, onde dirigiu e roteirizou curtas-metragens que ocuparam festivais como Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, UFA Youth Film Festival, Prêmio ABC, entre outros. Hoje atua como roteirista e redator publicitário.

 

A cobertura do 47º Mostra Internacional de Cinema São Paulo faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.

Agradecemos a toda a equipe da Assessoria da Mostra por todo o apoio na cobertura do evento.

Equipe Jovens Críticos Mnemocine: 

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção e Edição: Bruno Dias

Edição: Davi Krasilchik, Luca Scupino, Fernando Oikawa e Gabriela Saragosa

Edição Adjunta e Assistente de Produção: Davi Krasilchik e Rayane Lima