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Quem Fizer Ganha (2023, Taika Waititi) | 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo

Quem Fizer Ganha (2023, Taika Waititi) | 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo

Por Giuli Gobbato

 

Determinado a discutir sua própria identidade em tela, o diretor neozelandês Taika Waititi, mais uma vez, fez bom uso da plataforma que conquistou em Hollywood. Depois de ter dirigido os blockbusters Thor: Ragnarok (2017) e Thor: Amor e Trovão (2022), Waititi aproveitou a atenção que recebe para voltar os olhos do público à cultura polinésia em seu novo longa, Quem Fizer Ganha (2023), que retoma o estilo do início da carreira do diretor.

 

Seguindo o hábito de filmar roteiros adaptados, Waititi nos apresenta a história real de um técnico frustrado, Thomas Rongen (Michael Fassbender), que é contratado como último recurso para salvar a reputação da Seleção Nacional de Futebol da Samoa Americana. A equipe é tida como fracasso internacional após levar uma goleada da Austrália nas classificatórias da Copa em 2001 e o protagonista é considerado anti-profissional por ter ataques de raiva em vários jogos. O enredo permite o resgate da apresentação da Oceania como pano de fundo de grandes histórias, como já feito pelo diretor em Uma Fuga Para A Liberdade (2016), seu segundo longa-metragem, produzido inteiramente na Nova Zelândia e de grande sucesso no país.

 

Māori e judeu, Waititi sempre tenta incorporar um reapoderamento cultural em suas obras, principalmente indígena, em frente e detrás das câmeras. Com exceção do técnico, holandês-estadunidense, e de sua equipe, todos os outros atores em tela durante os 90 minutos são polinésios. Quanto à história, vale o mesmo: a representatividade e discussão de minorias é um aspecto muito frequente em suas séries, What We Do In The Shadows (2019, FX) e Nossa Bandeira É A Morte (2022, HBO Max), que discutem identidades de gênero, orientações sexuais e herança cultural com frequência em seus enredos. E, em Quem Fizer Ganha, não é diferente. O longa discute esses temas em primeiro plano, apresentando-os num embate entre a cultura eurocêntrica do técnico e a cultura samoana-americana da equipe, ao passo em que critica o preconceito imperialista sobre os costumes e sabedoria das ilhas da Polinésia.

 

 

O filme provoca o espectador em seus temas sensíveis e alguns tabus. E quando estes são aprofundados em discussão, têm seu peso emocional balanceado pela comédia. O humor de Taika Waititi, já bem conhecido por seu público, se apoia muito na oscilação entre comédia e drama, que a maioria dos atores consegue sustentar com excelência em Quem Fizer Ganha — com destaque para Oscar Kightly (Tavita), dono do time, que arranca risadas só com o olhar. O protagonismo de Michael Fassbender não decepciona, com direito a aplausos por seu monólogo durante a partida, primeira vez que o protagonista se abre sobre seu passado e suas motivações para estar no meio do Oceano Pacífico; mas acaba ofuscado pelos colegas de elenco, principalmente quando o assunto é comédia.

 

Materializando o diferencial do lugar de fala, o roteiro utiliza-se de um recurso narrativo na conclusão que reforça a escolha de direção mais documental de Waititi e evita a mesmice da conclusão de histórias que envolvem uma grande batalha final, nesse caso o jogo. O final do jogo é narrado e comentado por um dos personagens, o que quebra o ritmo dos espectadores que acompanham a partida. A direção também é simples, com planos mais estáticos, similares aos de documentários, ao passo em que a  fotografia é uniforme ao longo do filme — não vemos a Samoa Americana com uma conotação de “paraíso” apenas porque os estadunidenses enxergam a ilha assim.

 

Todas as críticas ao eurocentrismo e branquitude, assim como as  discussões de gênero e identidade propostas por Waititi em Quem Fizer Ganha, fazem do filme um de seus melhores trabalhos; tão excelente quanto Uma Fuga Para A Liberdade (2016) e merecedor do sucesso e destaque que tiveram seus blockbusters de super-herói. E assim se espera, pois o cineasta é inteligente o suficiente para traçar seu caminho de forma que, quando coloca a boca no trombone, é ouvido com atenção.

 

Biografia:

Giuli Gobbato é cineasta, comunicadora audiovisual e escritora. Formada em Cinema pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), sempre explorou o som de todas as formas, inclusive na música. Foi montadora e diretora de som em diversos curta-metragens, além de dirigir e roteirizar dois curtas independentes. Atualmente pesquisa a acessibilidade na comunicação.

 

A cobertura do 47º Mostra Internacional de Cinema São Paulo faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.

Agradecemos a toda a equipe da Assessoria da Mostra por todo o apoio na cobertura do evento.

Equipe Jovens Críticos Mnemocine: 

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção e Edição: Bruno Dias

Edição: Davi Krasilchik, Luca Scupino, Fernando Oikawa e Gabriela Saragosa

Edição Adjunta e Assistente de Produção: Davi Krasilchik e Rayane Lima