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É Tempo de Tiradentes | 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes

( Abertura Oficial - Foto Leo Lara/Universo Produção)

 

É Tempo de Tiradentes | 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes

Por Giu Nascimento

 

Teve início a 27ª edição do tradicional evento de cinema brasileiro contemporâneo, a Mostra de Cinema de Tiradentes - com a exibição de novos filmes de André Novais e Lincoln Péricles.

 

O público foi recebido com distribuição de pipoca, em frente ao estande montado para a Cine-Tenda — onde acontecem algumas das exibições de filmes do evento — e uma orquestra, no Cine-Lounge — onde acontecem as performances de finalização de cada dia —, para a abertura da 27ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes.

 

A tradicional mostra acontece na cidade mineira, anualmente, desde janeiro de 1998. Nascida inicialmente como um programa de inauguração do Centro Cultural Yves Alves, a mostra se tornou uma das mais importantes no panorama do cinema brasileiro, contando com filmes representando os mais diversos estados. A noite de abertura, realizada no dia do aniversário de 306 anos da cidade de Tiradentes, contou com a casa lotada.

 

Fazendo jus ao festival, que conta não só com os filmes que o caracterizam, mas também com outras formas de arte (como música, teatro e circo), a cerimônia do dia 19 iniciou com uma performance audiovisual, com direção de Chico de Paula com música ao vivo — pelos artistas Augusto Rennó, João Viana, Lais Lacôrte, Lira Ribas, Marcus Viana e Robert Frank — e com uma projeção audiovisual, sendo a performance dividida em partes, intercalada por discursos, homenagens e agradecimentos.

 

A cerimônia seguiu com a fala de Raquel Hallak, diretora do evento, sobre a mostra e o tema da curadoria da edição de 2024, “os tempos são outros”. Ela ressaltou sobre como o festival traz o cinema contemporâneo brasileiro em cena, com filmes que rompem com o que é feito usualmente.

 

Durante a abertura, aconteceu também a entrega para os homenageados da mostra deste ano, o cineasta André Novais — nascido no interior de Minas Gerais, na cidade de Contagem, o cineasta é sócio-fundador da Filmes de Plástico, um importante expoente do cinema brasileiro contemporâneo, trazendo, em seus filmes, narrativas do cotidiano, muitas vezes com sua cidade natal como cenário principal e com personagens pretos como protagonistas — e Barbara Colen — também de Minas, a atriz iniciou a carreira em atuação aos 29 anos, tendo feito sua estreia em um curta de André Novais, e atuou de curtas independentes a longas que atingiram o grande público, como Bacurau (2019, Kleber Mendonça Filho).

 

Dois filmes foram exibidos na sessão de abertura. O primeiro, “Roubar um Plano”, com direção de André Novais e Lincoln Péricles, da Astúcia Filmes, fez sua pré-estréia na mostra. Este curta conta a história de Renato (Renato Novaes), um mineiro que trabalha em São Paulo, e Adriano (Adriano Araújo), um homem de um pouco mais de idade, claramente paulista. O filme acompanha os dois em um dia que decidem não trabalhar, com planos estáticos, enquanto os atores se movem livremente, por vezes saindo do quadro ou se distanciando dele. É como se a equipe de filmagem “roubasse” esses planos, adentrando na vida desses dois personagens. Ouvimos as mensagens de voz enviadas por Renato e Adriano, descobrindo seus desejos e pensamentos, ao passo em que somos apresentados não a imagens deles, mas do ambiente em que vivem: a periferia de São Paulo e as ruas do Capão.

 

O curta traz a temática do cotidiano, muito explorada pelo cineasta homenageado pela mostra. Ao longo do filme, por meio de planos-detalhes de objetos do cenário e de planos longos que priorizam o ambiente, ao invés dos personagens, a narrativa ganha uma nova camada, permitindo a compreensão de aspectos da vida dos protagonistas e dando mais profundidade para o diálogo que estabelecem, que coloca em evidência questões relacionadas ao trabalho.

 

Em seguida, houve a exibição de “Quando Aqui”, que conta com a direção de André Novais e produção da Filmes de Plástico. Realizado inteiramente em quinze dias, o média tem como temática central o tempo. Ao longo do filme são expostas imagens — por vezes fotografias, por vezes em vídeo — de ambientes de uma casa e das pessoas que ali habitaram, habitam ou irão habitar. A casa em si se torna um personagem — contudo, o mais interessante é observar as diferentes narrativas que acontecem naquele mesmo ambiente.

 

De modo sensível, o filme cativa o público, se integrando ao tema da curadoria do festival, sendo uma escolha assertiva para um filme de abertura. Os tempos se sobrepõem, é o passado do século XVII com uma imagem do futuro, é uma cena do presente com uma do passado sobreposta, em uma estética de montagem que chega a lembrar uma história em quadrinhos — o que faz sentido, considerando que o filme foi livremente inspirado na HQ Aqui de Richard McGuire. O média gera reflexões sobre os ambientes que habitamos e sobre quem um dia os frequentará, depois de a memória desaparecer, e fala sobre como os lugares podem contar histórias, nos levando a viajar no tempo.

 

Como mencionado na abertura, a Mostra de Cinema de Tiradentes traz em sua programação a “revolução de possibilidades estéticas”, sendo estas duas obras audiovisuais só uma amostra da programação completa. Foi aberto o “calendário do cinema brasileiro” e, com isso, também abrimos o ano de 2024 na Mnemocine.

 

 


Biografia

Tem 25 anos, é escritora, roteirista e produtora. Formou-se em Cinema na FAAP e especializou-se em roteiro na UCLA Extension. Autora de Polaris (ou ela não é daqui), livro adolescente que será publicado pela editora Flyve ainda no primeiro semestre de 2024, também possui contos publicados na Amazon e na antologia da Ópera Editorial. Giu roteirizou e dirigiu seis curta-metragens, sendo o seu principal foco as questões da infância e juventude, além disso possui outros projetos em desenvolvimento na produtora que é sócia-fundadora, a Bitola Cultural.

 

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A cobertura do 27º Mostra de Cinema de Tiradentes faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.

Agradecemos a toda a equipe Universo produção e a ATTI Comunicação e Ideias por todo o apoio na cobertura do evento.

Equipe Jovens Críticos Mnemocine: 

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção e Edição: Bruno Dias

Edição: Davi Krasilchik, Luca Scupino, Fernando Oikawa e Gabriela Saragosa

Edição Adjunta e Assistente de Produção: Davi Krasilchik e Rayane Lima