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Borderland (Pamela Yates, 2024) | É Tudo Verdade 2024

Borderland (Pamela Yates, 2024)  | É Tudo Verdade 2024

Por Ana Luiza Weigt

 

Borderland - A Fronteira Interior, de Pamela Yates, teve a sua estreia em 2024, cinco anos após o início das filmagens, ano simbólico pelas eleições presidenciais dos Estados Unidos. O documentário toca na questão da imigração nos Estados Unidos, usada pelo ex-presidente Donald Trump cada vez mais em sua campanha, com promessas de restrições ainda maiores caso reeleito. Cineasta e documentarista norte-americana, Pamela Yates ganhou reconhecimento internacional por suas obras que abordam temáticas como   justiça social, direitos humanos e esferas políticas. Ela é mais conhecida por dirigir o premiado documentário When the Mountains Tremble (1983), que examina a guerra civil na Guatemala, e sua sequência, Granito: How to Nail a Dictator (2011), que investiga os crimes contra a humanidade cometidos durante o regime militar guatemalteco.

 

Yates traça um paralelo entre as questões imigratórias do presente, de Donald Trump ou Joe Biden, e o futuro ainda mais incerto que conta com a crescente de imigrações e refugiados no mundo inteiro. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Internacional para Migrações (OIM), contabilizou 272 milhões de migrantes internacionais ou 3,5% da população global. Não coincidentemente, época do início das gravações do documentário.

 

Como sugere o título, a narrativa mostra como a fronteira está estabelecida em diversos âmbitos, não apenas na fronteira geográfica e no muro construído entre o México e Estados Unidos. Ela também se expressa nas medidas restritivas e no tratamento desumano dessas populações durante todo o processo e estadia nos EUA. 

 

Estão em evidência, durante o filme, duas personalidades: Kaxh Mura’l, um defensor ambiental e líder  na luta de sobrevivência das terras ancestrais de sua comunidade, e Gabriela Casteñeda, uma líder organizadora da comunidade “Border Network” que ao mesmo tempo luta por sua cidadania. Kaxh já conhecia Yates desde as gravações de 500 anos (2017), e permite que a sua história, em busca de asilo político para fugir da perseguição na Guatemala, seja contada pela diretora.

 

O documentário é iniciado com um impactante plano aberto da fronteira entre a cidade de Juarez, no México, e El Paso, nos Estados Unidos, junto a uma melodia cantada, sem letra. Acompanhando as histórias, muitas cenas contam de perto as experiências  de diversas famílias que sofrem com a política de impedimento massivo do processo imigratório. Mesmo com uma trilha sonora que acompanha a dramaticidade do que é contado, o longa é anticlimático ao introduzir elementos, em meio às imagens, como gráficos de mensagens de voz que parecem encenadas. 

 

Parte importante da construção está nas entrevistas, que se dão no formato tradicional, algumas remotas,  e nos dados e pesquisas apresentadas pela equipe de também  imigrantes autodenominada xpMethod. A organização gera visualizações artísticas a partir de dados do Complexo Industrial Fronteiriço, obtidos legalmente, para expor a infraestrutura destinada à remoção em massa de imigrantes, atividade extremamente lucrativa para empresas privadas.  Em um estúdio cinza, que se opõe ao naturalismo do restante da obra, eles mostram graficamente os desafios e proibições que os imigrantes enfrentam, o que acrescenta em pesquisa e dados, mas cria um estranhamento estético.

 

Dessa forma, o filme tenta se aproximar da realidade, e expõe o que normalmente não é documentado, como o trajeto pelo deserto até a fronteira, o encarceramento na espera do processo de imigração, e o abuso de poder dos mecanismos governamentais Border Patrol e ICE. A câmera, tanto a cinematográfica quanto a dos celulares e dos agentes sociais, se estabelece ainda como um mecanismo de luta e sobrevivência frente a muitas opressões.

 

A abordagem honesta e pessoal de Yates convida à reflexão, não apenas sobre os desafios enfrentados pelos imigrantes, mas também sobre a responsabilidade de ação coletiva rumo a sociedades mais inclusivas e humanizadas.

 

Biografia:

Ana Luiza Margotto Weigt é uma estudante de cinema no Centro Universitário Armando Álvares Penteado (FAAP). Atuou nas áreas de roteiro, direção, direção de arte e direção de fotografia.

 

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A cobertura do 29º Festival Internacional de Documentário É Tudo Verdade faz parte do programa Jovens Críticos que busca desenvolver e dar espaço para novos talentos do pensamento cinematográfico brasileiro.

Equipe Jovens Críticos Mnemocine: 

Coordenação e Idealização: Flávio Brito

Produção e Edição: Bruno Dias

Edição: Davi Krasilchik, Luca Scupino, Fernando Oikawa e Gabriela Saragosa

Edição Adjunta e Assistente de Produção: Davi Krasilchik e Rayane Lima