Críticas de filmes, crônicas, artigos diversos sobre o mundo do cinema.
Excursão (2023, Una Gunjak) | 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
Por Fernando Oikawa Garcia
A adolescência é um período difícil. Diante do crescer, começam crises de identidade, o desejo sexual aflora e gera inseguranças, as relações com colegas de escola frequentemente são permeadas por crueldade. É esse universo o retratado por Excursão (2023), dirigido por Una Gunjak e representante da Bósnia no Oscar de Melhor Filme Internacional. Nele, Iman é uma jovem de quinze anos que se vê presa em sua própria mentira após contar, num jogo com colegas de sala, sobre uma suposta primeira relação sexual. A farsa ganha novas proporções e Iman a alimenta, inventa uma gravidez que se torna catalisadora de uma histeria coletiva, de pais a alunos. A premissa até acena para comédias populares, como A Mentira (2010, Will Gluck) ou Oitava Série (2018, Bo Burnham), mas Gunjak dá tratamento sóbrio a este coming-of-age que opera sob a lógica da angústia crescente: o resultado de uma radiografia dos modos como uma sociedade conservadora trata o desejo feminino.
Presente de Deus (2022, Asel Zhuraeva) | 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
Por Marcos Kenji
“Presente de Deus” parte de convicções. É um filme que põe uma clara associação entre Deus e a formação do núcleo familiar, independente da idade. O que é surpreendente é como esse é tema posto: com um movimento que parte da mortalidade à vida, como um propósito divino.
Assassinos da Lua das Flores (2023, Martin Scorsese)
por Davi Krasilchik
Renovando a sua habilidade como mestre do cinema americano, Martin Scorsese propõe a investigação de rostos e culturas sob a fantasia do épico de western. Através de um jogo de múltiplas perspectivas, ele denuncia o monopólio da visão dos grandes vencedores históricos e desconstrói caminhos percorridos ao longo de sua carreira.
Máscara de Ferro (2023, Kim Sung-Hwan) | 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
Por Marcos Kenji
Por questões melhor explicadas pela geopolítica mundial, a indústria cinematográfica sul-coreana tem uma produção amplamente influenciada pelos norte-americanos. O gênero do drama esportivo, para Hollywood, é um formato vantajoso para inserir o sonho americano, com o discurso de que “quando se trabalha, é possível subir na vida”. Só em 2023, essa noção já gerou alguns filmes de relevância, dentre eles Creed III (2023, Michael B. Jordan) e Gran Turismo (2023, Neill Blomkamp). Máscara de Ferro, no entanto, prova como os sul-coreanos superam, à sua maneira, os americanos, utilizando referências da própria cultura.